A Fila

| 10 março 2017 |


“A Fila”, da autora Ana Esterque, é um tipo de livro que sempre me enche de contradições quando eu estou lendo. Livros de contos geralmente ou fazem com que eu não me prenda a história, ou fique frustrada pela narrativa ser curta demais e posso dizer que passei pelos dois extremos lendo esse livro.

O primeiro conto, que dá título ao livro, “A Fila” nos passa tão claramente os sentimentos de uma criança perante a responsabilidade que a mãe coloca em suas mãos, a tensão que ela sentia naquele momento e o medo de ser repreendida, que é impossível terminar não achando que foi abrupto, desejando saber o que aconteceu, se a mãe retornou, ou ao menos se a geladeira, pivô de toda a trama, foi realmente comprada.

Em “Boa noite, Isabella” estamos realmente na cabeça da personagem, durante seu jantar, ao encontrar com desconhecidos, aparentemente simpáticos, que a fizeram viver a maior violência de sua vida, por mais que ela, e consequentemente o leitor, não se lembre de nada do que aconteceu. A diagramação nesse conto tem um peso enorme, uma forma muito bem elaborada de deixar aquele momento em branco.

Em um dos meus contos favoritos, “Os Estrategistas” temos um autor (não sei se a própria autora do livro) em seu momento como Deus. Quando o autor é dono do seu próprio mundo, decide quem vive e quem morre, porém, o que pode acontecer quando um de seus personagens não está conformado com o seu destino? Genial e surpreendente. O único conto que não me deixou frustrada, querendo saber mais do que estava por vir. Teve um desfecho que realmente finalizasse a história.

No conto “Você não acha que ainda é cedo” conhecemos os moradores de um prédio, enquanto um homem deixa a sua casa, passa de andar em andar, mas apenas nós, leitores, realmente sabemos o que se passa em cada um daqueles apartamentos e a relação que os moradores tem uns com os outros, até o que homem finalmente chegue ao seu destino.

Todos os contos nos deixam com uma sensação de tensão, tristeza, mas, ver a autora colocando uma coelhinha como personagem principal, é de cortar o coração. O título desse conto não poderia ser mais perfeito. Em “Amor delicado” temos exatamente o sentimento do que é amar um animalzinho, o que é estar ao lado dele e vê-lo envelhecer, porém, ao invés do lado humano, vemos isso do ponto de vista do animal. Emocionante e genial.

A autora tem um grande conhecimento e domínio para transmitir o que é ser humano, ou o que se passa na alma humana. Fiquei impressionada com os sentimentos, pensamentos e a relação que eu consegui criar com os personagens, mesmo com cada história com tão poucas páginas, me deixando por muitos momentos com um gostinho de quero mais.

2 comentários:

  1. Jana!
    gosto de livros de contos justamente porque nos mostra várias facetas da autora (no caso aqui).
    E saber que ela demonstra o conhecimento sobre os sentimentos do ser humano e consegue transmiti-lo em seus contos, torna o livro interessante.
    “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.” (Simone de Beauvoir)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP Comentarista de MARÇO, livros + KIT DE PAPELARIA e 3 ganhadores, participem!

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