Finalmente havia chegado o meu grande dia. Eu acordei antes
de sequer alguém trazer o meu desjejum, o que não era nem um pouco usual. Abri
as cortinas para que o sol banhasse o meu quarto com todo o seu brilho, mas não
pude deixar de me decepcionar ao ver o céu nublado daquela forma. Como a
natureza tinha a audácia de tentar estragar o momento mais importante da minha
vida?
Mas aquilo não tinha importância. Voltei novamente para o
centro do quarto, onde estava a mais bela obra prima que eu já tinha visto.
Qualquer um dos outros vestidos que já me fizeram não chegavam aos pés desse.
Eu seria a princesa mais bela que qualquer um já tenha visto. Todos os
príncipes, de todos os Reinos, não teriam olhos para nenhuma outra garota
naquele palácio essa noite.
Mal podia conter minha alegria. Desejava fervorosamente que
o dia passasse e a minha noite finalmente tivesse o seu início. Comecei a
rodopiar no quarto, sem me importar com o que aquilo pareceria, até ouvi uma
risada perto da porta.
Parei de costas para quem quer que fosse, apenas para tentar
me acalmar. Minha mãe havia me dito que eu deveria me portar como uma princesa,
que um dia seria uma rainha, portanto, não poderia me exaltar com os criados.
Deveria mantê-los na linha, mas com sutileza.
Eu iria seguir os seus conselhos, repreender aquela criatura
que não conhecia o seu lugar, porém, de forma elegante, mas o fato de que
aquilo não foi uma risada isolada, que ela ainda ria de mim, mesmo que agora eu
estivesse apenas parada, sem nem lhe dirigir o olhar, era mais do que a minha
paciência poderia suportar.
Virei abruptamente, pronta para pegar o que estivesse ao meu
alcance e jogar em quem quer que fosse, mas paralisei no mesmo instante em que
encontrei os seus olhos.
Não havia mais pensado naquela mulher desde aquele dia. Me
convenci que tudo não havia passado de obra da minha imaginação, que eu estava
muito nervosa com a aproximação do meu baile. Os nobres de reinos mais
distantes começaram a chegar, para se instalarem no castelo e minhas atribulações
me impediram de pensar em qualquer outra coisa. Até aquele momento.
O seu olhar me paralisava, como se algum tipo de medo muito
antigo voltasse a superfície da minha alma. Ela ainda ria, olhando em minha
direção, enfatizando ainda mais as rugas proeminentes em seus olhos, e tudo o
que eu sentia era vontade de chorar.
A porta as suas costas já estava fechada. Eu queria gritar,
pedir que alguém viesse me ajudar, que tirassem imediatamente aquela pessoa da
minha frente, mas nada saía da minha garganta e lágrimas começaram a escorrer
de meus olhos.
Eu sentia uma mistura de frustração, raiva e medo, enquanto
ela se aproximava cada vez mais de mim. Queria me mexer, sair correndo, fazer
qualquer coisa, mas meu corpo não me obedecia.
Ela parou bem a minha frente, com um sorriso superior em seu
rosto. Eu podia sentir meu coração querendo abrir um buraco para sair a força do
meu peito. O ar começou a me faltar quando ela levantou as mãos e tocou meu
rosto.
Eu estava com medo, mas o seu toque era gentil e eu não pude
deixar de sentir algo suave saindo de suas mãos e entrando em contato direto
com a minha face. Era como se uma brisa suave tocasse o meu rosto, invadisse a
minha pele e encontrasse o seu caminho deslizando por dentro de mim.
Aquela sensação era inebriante, ao mesmo tempo em que era
assustadora. Eu sentia que morreria se não tivesse mais aquele toque em minha
pele e aquela sensação percorrendo o meu corpo. Eu já não tinha mais
consciência de quem eu era, de onde eu estava ou quem era aquela pessoa a minha
frente. Apenas sabia que meu mundo nunca mais seria o mesmo.
- Agora, minha querida princesa, você terá que aprender com
os seus erros, ou encontrar o seu fim através deles. A escolha será sua, sempre
foi. Você só terá que escolher o que é certo.
Eu mal consegui perceber as suas palavras, pois, quase naquele
mesmo instante, ela tirou as mãos do meu rosto. Como eu imaginei, aquela era a
pior sensação que eu poderia sentir. Meu corpo não aguentaria sustentar algo
tão pesado quanto a minha existência sem toda aquela energia dentro de mim.
O sorriso não tinha deixado o seu rosto, e ele foi a última
coisa que eu vi antes de desabar, no chão do meu quarto, sem saber se voltaria
a acordar algum dia.
_______________________________________________________________________________
Abri os olhos sem entender exatamente o que estava acontecendo.
Meu quarto estava cheio de pessoas e minha mãe chorava abraçada ao meu pai. Um
homem velho tocava meu rosto, meu pescoço e utilizava uns instrumentos
estranhos para, aparentemente, sentir algo dentro de mim.
Ele suspirou pesadamente quando me viu abrir os olhos. O alívio
transparecia em seu olhar. Vários murmúrios começaram a se espalhar entre
aquelas pessoas e, quando percebi, minha mãe já estava estirada em minha cama,
me abraçando e espalhando novas lágrimas, dessa vez, em cima de mim.
- Minha querida! – Ela mal conseguia falar. Se não estivesse
tão perto, não entenderia sequer uma palavra que estava deixando os seus
lábios. – O que aconteceu? Eu tive tanto medo que você nunca mais acordasse.
Eu não entendi a sua pergunta e não me lembrava direito do
que tinha acontecido. Olhei para a janela e minha cortina estava aberta. Eu me
lembrava de ter levantado e ido até a janela, mas o dia já estava claro. Agora
estava um breu do lado de fora.
Empurrei minha mãe para o lado e fui em direção a janela.
Minhas pernas ficaram levemente bambas, mas consegui manter o equilíbrio. Todos
ali pareciam me seguir de perto. Olhei pela janela e centenas de carruagens
estavam paradas. Todas belas e requintadas. Eram os nobres que haviam chegado
para o meu baile.
O meu baile! Como poderia ter me esquecido? Hoje era o meu
grande dia e eu ainda não estava pronta. Sequer tinha me preparado para aquele
momento. Como aquilo poderia ter acontecido?
Eu não conseguia entender como tinha passado todo o dia
dormindo, até que me lembrei de algo. Me virei abruptamente, olhando para os
rostos de todos ali presentes. Comecei a ofegar, apenas de lembrar do que tinha
acontecido. Mas, será que aquilo tinha realmente acontecido? Será que foi um
sonho causado por algo que me fez dormir todo o dia? Eu não sabia o que pensar,
mas o aperto em meu coração me dizia que tudo aquilo não era obra da minha
imaginação.
Um desespero que eu nunca havia sentido começou a se instalar
dentro de mim. Aquela sensação era destruidora. Eu nunca senti algo tão
intenso, algo tão ruim, que como princesa não pudesse resolver. Tudo o que
acontecia em minha vida era remediável. Bastavam algumas ordens para que tudo
ficasse como eu desejasse. Mas, pela primeira vez em toda a minha vida, eu não
sabia o que fazer.
Minha mãe se aproximou, provavelmente notando o desespero em
meu rosto. Eu não queira que ela me tocasse. Eu não queria que ninguém mais me
tocasse. Aquela mulher me tocou e agora eu estava me sentindo daquela forma.
- Calma, querida. – Minha mãe ergueu a mão em direção ao meu
rosto. Eu não queria que ela me tocasse, eu sentia que não deveria deixar que
ela me tocasse. – Vai ficar tudo bem.
O desespero cresceu como uma chama se inflando em meu peito.
Como uma última alternativa para que ela não me tocasse, levantei minha própria
mão, para barrar a sua. Durante o meu movimento, eu senti uma brisa acompanhar
a minha mão, muito mais forte do que o normal. Aquela sensação maravilhosa
voltou a me aquecer por um momento. Quase fechei os olhos, apenas para poder
guardar aquela sensação dentro de mim, mas um grito de terror me fez voltar a
realidade.
Minha mãe tinha se jogado para trás e estava caída logo a
minha frente, onde meu pai a amparava. Ela segurava sua mão junto ao peito como
se algo estivesse errado. Meu pai pediu para ela soltar a mão e todos
suspiraram com medo e perplexidade, desviando seus olhares da mão de minha mãe
para o meu rosto petrificado.
Havia um corte enorme em sua mão. Exatamente a mão que tinha
tentado tocar o meu rosto. O sangue havia começado a escorrer, manchado o seu
vestido e o chão do meu quarto. Olhei para minhas próprias mãos e elas tremiam,
assim como o resto do meu corpo. Não
sabia como aquilo tinha acontecido.
- Mãe... – Eu me aproximei, para tentar entender o que
estava havendo, mas ela gritou apavorada, o que me fez recuar. O olhar de meu
pai me cortava ao meio, e, mesmo enquanto se levantava, não deixou de me
encarar em nenhum momento.
- Quem é você? – Ele perguntou, e eu não consegui entender
sua pergunta. – O que fez com a minha filha?
Ele gritou a última pergunta, o que me fez recuar mais um
passo. Eu senti o batente da janela em minhas costas e as lágrimas
transbordando em meus olhos.
- Papai, sou eu. – Mal conseguia articular minhas palavras.
– Sou a Cecília, a princesa. Sua filha.
- Você não é minha filha. – Ele ajudou minha mãe a se
levantar e foi em direção a porta. Eu pude ver os guardas de prontidão do outro
lado. – Mas vai confessar o que fez com ela, sua amaldiçoada.
Amaldiçoada? Eu não era uma daquelas mulheres amaldiçoadas.
Como meu pai poderia dizer algo assim? Como ele podia não ver que eu estava
ali, bem à sua frente?
Eu queria seguir meus pais, mas, assim que eles saíram do
quarto, os guardas entraram. Nenhuma reverência ou pedido de desculpas foi
feito. Eles simplesmente invadiram o quarto da princesa sem nenhuma cerimônia,
por ordens do Rei.
Por ordens do rei, por ordens de meu próprio pai.
Aquilo não poderia estar acontecendo. Eles se aproximavam
cada vez mais, mas com cautela. O medo era evidente em seus olhos. Eu estava
acostumada a ver meus serviçais com o olhar demonstrando medo, mas não com
aquela intensidade. Eles tinham medo de que, o que quer que tenha acontecido
com a minha mãe, acontecesse com eles também.
Eu não era uma amaldiçoada. Era a princesa, a filha do Rei,
futura herdeira daquele castelo. Meu medo começava a se transformar em
frustração e raiva.
- Parem imediatamente! O que pensam que vocês estão fazendo?
Eu sou a princesa. Não ousem dar mais nenhum passo.
Mas nenhuma das minhas palavras pareciam estar sendo
ouvidas. Eles continuavam avançando, apesar do medo os deixar cada vez mais
lentos. Meus gritos só serviram para causar um tremor a mais em suas ações, mas
eles estavam dispostos a seguir em frente.
Eu sabia exatamente qual era o destino de uma amaldiçoada. Meu
corpo se agitou só de pensar no que poderia acontecer. Eu não era uma daquelas
mulheres. Eu era a princesa, a filha do rei. Mas eles não iriam me ouvir. Eu
teria que provar que estava falando a verdade.
Mas, se eles me pegassem, seria tarde demais.
A passagem até a porta estava completamente intransponível.
Havia guardas e empregados por todos os lados. Eu me afastei o máximo que pude,
mas só havia a janela atrás de mim.
Olhei disfarçadamente, tentando medir a altura. Estava no
segundo andar, poderia me machucar. Mas nada me machucaria mais do que o
destino que estaria me esperando caso eles me pegassem.
Nunca fui de pensar muito em meus atos, mas nunca tive tanto
medo de algo antes. Tentei agir sem pensar novamente. Pensar só me faria ser
pega.
Girei o corpo e, tentando não pensar no que poderia
acontecer,
passei uma perna por cima da janela,
ouvi o grito de um dos guardas
e pulei.
AI SOCORRO hdhdiuidu tinha que terminar assim? aff posta logo o próximo capítulo! hahahah beijos jana!
ResponderExcluirhehehe, calma, próximo sábado já tem um novo capítulo :D
ExcluirObrigada por acompanhar <3
Beijos!!!
Oiiii
ResponderExcluirAgora ela começa e aprender uma lição!!!
Louca pela continuação.
Bjs
Esse é só o começo... hehehe
ExcluirTenho até pena dela :D
Beijos!!!
Meu deus come ela é sem sorte e pensa que pode fazer como quer tudo to com raiva dela desde a primeira parte.
ResponderExcluirAs coisas vão começar a ficar bem feias para ela a partir de agora... hehehe
ExcluirBeijos!!!