A Batalha dos Elementos (Parte 1/7)

| 27 junho 2015 |
Era quase impossível acreditar que aquilo pudesse estar acontecendo. Aquela era a minha primeira missão como líder, a primeira vez que o comandante supremo havia confiado o suficiente em mim para me deixar tomar conta de todo um esquadrão. Não vou me iludir achando que aquele era realmente um grande feito. Meu esquadrão era composto de apenas 5 pessoas, contando comigo, e aquela missão não era uma das mais complicadas. Pelo menos era isso o que todos achavam.

Eu nunca teria sido incumbido de ir até as montanhas se alguém sequer suspeitasse que o Lorde Supremo dos exércitos do Sul estivesse usando aquele local como seu novo esconderijo. Nós fomos enviados até lá apenas para averiguar se algum morador estava com dificuldades, após o último deslizamento. Agora, era claro que aquele deslizamento não tinha sido obra das forças da natureza e que o exército do Sul já estava de partida.

Era uma audácia sem tamanho imaginar nossos maiores inimigos acampados quase a nossa porta. Eles estavam a apenas dois dias de viagem dos portões principais dos exércitos do Oeste, porém, nós éramos apenas cinco e eles, um exército. O correto teria sido nós voltarmos imediatamente, alertar o comandante, porém, era claro que aquele esconderijo não lhes servia mais, e eles estavam de partida. Eu não poderia deixá-los ir embora. Os quatro dias necessários para irmos até nossa cidade principal e voltarmos, eram mais do que suficiente para que o inimigo desaparecesse novamente.

Analisei todas as minhas possibilidades calmamente. Deixá-los fugir ou tentar, de alguma forma, frustrar os seus planos. Minha equipe era realmente equilibrada. Cada um dos meus companheiros era especialista em dominar um elemento. Esse era o primeiro ponto que eu tinha que manter em mente, nós éramos fortes, muito fortes, mas juntos. Eu sabia que, apesar de essa ser minha primeira missão como líder, eu estava sendo treinado para ser um líder de elite. Há muitos anos não nascia ninguém no Oeste com afinidade com todos os elementos. Eu era quase uma lenda, apesar de não gostar de ser tratado assim. Fazer parte dos exércitos era uma honra, aqueles que conseguiam ingressar nas linhas de combate eram tratados quase como os Reis que governavam essas terras antes que os exércitos tomassem o poder. Apesar disso, nunca foi realmente meu sonho fazer parte tão efetivamente dessa guerra. Meu pai nunca teve nenhuma afinidade com qualquer elemento e eu nunca conheci minha mãe, portanto, não tenho como saber de onde surgiu tamanho poder, mas toda essa afinidade decidiu o meu destino antes que eu pudesse sequer pensar no que eu gostaria de fazer com a minha vida.

Sempre pensei que continuaria o oficio do meu pai. Como filho único, seria natural que eu assumisse o seu negócio quando chegasse à idade adulta. Meu pai podia não ter afinidade com qualquer elemento, mas produzia armas que se moldavam aos elementos como ninguém.  Quando criança, eu sentava ao seu lado por horas e horas, apenas para poder vê-lo transformar vidro e metal em peças fantásticas, mas eu nunca realmente pude sequer aprender como aquilo era feito.

Desde a escola, nós somos estimulados a encontrar afinidade com algum elemento. Isso é extremamente essencial para aumentar o poder do exército de uma região, supondo que todas as guerras são travadas por pessoas que podem manipular algum elemento. Eu fui o que mostrei afinidade com um elemento mais rápido do que qualquer estudante de que se tinha notícia.

Eu não era mais do que uma criança quando consegui mover uma grande quantidade de terra de um lugar a outro. Aquilo era um grande feito, mesmo para alguém que já tenha efetivamente iniciado o seu treinamento. Todos ficaram entusiasmados, isso até eu começar a demonstrar familiaridade com todos os outros elementos. De entusiasmados eles foram para eufóricos e de eufóricos decidiram que eu deveria ir imediatamente para o treinamento. Geralmente, crianças não iam para o treinamento, mas ninguém sequer perguntou o que eu queira ou se meu pai permitiria. Era algo que eles não viam há muitos anos, alguém que poderia ser usado como uma arma perfeita.

Não se viam muitos líderes com a minha idade, mas, como eu fui muito cedo para o treinamento, agora eu estava aqui, com um esquadrão em minhas mãos e com o nosso maior inimigo a alguns passos. Eu sabia que não poderia virar as costas e deixá-los desaparecer novamente. O exército do Sul era conhecido exatamente pelo seu rastro de destruição. Eles raramente eram vistos. Tudo o que sempre sobrava era morte e desespero na poeira que eles deixavam pelo caminho.

Eu sabia que não poderia voltar, por mais que o comandante supremo fosse querer me matar por me arriscar de forma desnecessária, essa foi uma de suas ordens, não me arriscar em hipótese alguma, mas eu não seria um verdadeiro líder do exército do Oeste se virasse as costas para aquelas pessoas. O meu esquadrão, aqueles que eram muito mais do que meus subordinados, eles eram meus amigos, pessoas que cresceram comigo, não me respeitariam se eu os obrigasse a abandonar toda aquela gente.

- O plano é o seguinte. – Comecei, tentando não deixar minha voz titubear. Por mais que eu soubesse que tinha mais poder do que qualquer um deles, do que talvez qualquer um daquele exército inteiro, aquela responsabilidade era algo que eu realmente nunca almejei conquistar, mas não queria os decepcionar, muito menos deixar alguém se machucar. – Eles estão em volta da parte leste da montanha. Ao que parece, eles estavam acampando do lado de dentro. Agora estão saindo para ir embora. Não é fácil, nem rápido, locomover um exército desse tamanho, então nós vamos entrar pelo outro lado, abrindo caminho até chegar onde eles estão. Com a proteção da montanha será mais difícil que eles nos ataquem de uma só vez. Vamos estar protegidos e, com sorte, conseguiremos aguentar os dois dias que serão necessários para que o exército do Oeste mande reforços.

- Mas, Léo, como nós vamos fazer para que eles saibam que algo está acontecendo? – Eu já estava esperando essa pergunta e fiquei feliz por ser Rodrigo o responsável por ela.

- Nós teremos que chamar a atenção de alguma forma, Rodrigo. E tenho certeza que você terá um grande papel nessa parte.

Rodrigo sorriu, sabendo que a sua afinidade com o fogo seria necessária. Ele era uma pessoa até calma, mas sabia ser esquentado quando necessário. Os outros assentiram e começaram a descer de onde nós estávamos. Perderíamos o exército de vista, mas tínhamos que entrar na montanha pela base do lado oposto.

Rodrigo, Diego e Fernando já estavam bem adiantados quando eu olhei para trás. Rebeca estava bem atrás de mim, mas eu gostava de saber onde meu esquadrão estava, principalmente em uma situação de perigo real. Ela sorriu e acelerou o passo. Rebeca tinha a minha idade, mas foi enviada para o treinamento alguns anos depois de mim. Na verdade, ela começou seu treinamento com a idade apropriada, a minha afinidade super especial que fez com que eu tivesse que abrir mão do resto da minha infância e do convívio familiar mais cedo.

Rebeca não era mais do que uma garota assustada nos seus primeiros dias. Eu treinava arduamente, mas, como qualquer outro “veterano”, também dava aula aos novatos. Aquela era a primeira turma em que as pessoas tinham a minha idade, então, um pouco menos assustador. Era complicado ensinar algo para pessoas mais velhas do que você, mesmo que o seu conhecimento fosse maior. Por mais que conhecessem a minha história, elas não me respeitavam o suficiente por conta da minha idade e eu tive muitos problemas nessa fase.

Mas eu tinha certeza que aquela menina não teria problemas em me respeitar, mesmo que eu fosse muito mais novo do que ela, o que não era o caso. Ela tinha problemas próprios para lidar. Quando alguém é enviado ao treinamento, é porque a sua afinidade com algum elemento era muito clara na escola. Ninguém era enviado sem a total certeza de que aquela pessoa dominaria aquele elemento.

Nos primeiros dias, a única prova que eu tinha que o seu elemento era a água era o seu histórico escolar. Nunca vi alguém parecer tão sem nenhuma afinidade quanto ela, não entre aqueles escolhidos para o treinamento. Ela não parecia conseguir controlar a água nem involuntariamente, algo muito comum no começo. A única água que sempre jorrava descontroladamente era de seus olhos, durante seu desespero de provar que realmente podia fazer aquilo.

Eu nunca tinha visto alguém tão desesperado. Me lembro de ter deixado o meu próprio treinamento de lado por vários dias, por mais que eu tenha sido punido por isso, apenas para ajudá-la a encontrar o seu equilíbrio.

Quando ela finalmente entendeu como ela devia controlar a água para que ela agisse conforme os seus comandos, foi um jorro de felicidade, tanto para Rebeca quanto para mim. Com tantas pessoas mais velhas a minha volta, eu nunca consegui ser realmente próximo de ninguém, até aquele momento. Por mais que ela não precisasse mais da minha ajuda, não se afastou, e nós nos tornamos grandes amigos.

Eu a conhecia bem o suficiente para saber que aquele sorriso escondia o seu nervosismo.

- Está tudo bem? – Não pude deixar de perguntar, por mais que soubesse o quão estupida era a minha pergunta.

- Tirando o fato que nós somos apenas cinco, apesar de você contar por uns dez, e de termos que enfrentar um exército inteiro? – Ela riu novamente. Eu percebi que talvez ela apenas tentasse segurar as lágrimas. – Tirando isso, está tudo bem.

Ela abaixou o olhar por um momento e todo aquele plano elaborado na minha cabeça começou a apresentar milhões de falhas. Rebeca seria uma líder muito melhor do que eu. Ela era esperta, sabia pensar em todas as possibilidades, sempre estava a um passo à frente de tudo o que eu imaginava. Eu estava prestes a dizer todas essas coisas, e interromper o nosso plano, quando ela continuou.

- Está tudo bem mesmo, Léo. – Ela repetiu, com muito mais firmeza dessa vez. – Eu confio em você e sei que você está fazendo o que é certo.

Eu entendia exatamente o que ela queria dizer. Entre as nossas escolhas, seria fácil virar as costas e ir embora, mas não seria o certo. Nós erámos apenas cinco, diante de um exército, porém, era melhor morrer lutando, do que viver com aquele ato covarde para o resto de nossas vidas.

8 comentários:

  1. Nossa muito bem escrito queria mais rsrsrsrrs adorei um misterioso conto na qual a muitas coisas a serem descobertas adoro assim.
    Abraços

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    1. Muito obrigada!!!
      Esse conto vai ser um pouco mais longo que os outros, então, tem bastante coisa pra acontecer :D
      Espero que você goste!

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  2. UAU!!! Muito bom o conto...Esperando ansiosamente pela continuação. Parabéns Caminho Cultural.

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  3. Oi, Jana!
    Achei super interessante isso deles poderem controlarem os elementos, e tô bem curiosa pra ver como derrotarão ou se derrotarão esse exército.
    Bjo <3

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    1. Espero muito que você goste, Dilza, mas, se não estiver gostando, também pode falar... hehehe. Estou me arriscando nesse mundo de escrever, então tenho muito o que aprender :D

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    2. Sim, estou gostando bastante! rsrs É que por enquanto não tenho uma opinião completamente formada por ser o início da história, mas promete ser muito boa! :D

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    3. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos :D

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