Era quase impossível acreditar que aquilo pudesse estar
acontecendo. Aquela era a minha primeira missão como líder, a primeira vez que
o comandante supremo havia confiado o suficiente em mim para me deixar tomar
conta de todo um esquadrão. Não vou me iludir achando que aquele era realmente um
grande feito. Meu esquadrão era composto de apenas 5 pessoas, contando comigo,
e aquela missão não era uma das mais complicadas. Pelo menos era isso o que
todos achavam.
Eu nunca teria sido incumbido de ir até as montanhas se
alguém sequer suspeitasse que o Lorde Supremo dos exércitos do Sul estivesse
usando aquele local como seu novo esconderijo. Nós fomos enviados até lá apenas
para averiguar se algum morador estava com dificuldades, após o último
deslizamento. Agora, era claro que aquele deslizamento não tinha sido obra das
forças da natureza e que o exército do Sul já estava de partida.
Era uma audácia sem tamanho imaginar nossos maiores inimigos
acampados quase a nossa porta. Eles estavam a apenas dois dias de viagem dos
portões principais dos exércitos do Oeste, porém, nós éramos apenas cinco e
eles, um exército. O correto teria sido nós voltarmos imediatamente, alertar o
comandante, porém, era claro que aquele esconderijo não lhes servia mais, e
eles estavam de partida. Eu não poderia deixá-los ir embora. Os quatro dias
necessários para irmos até nossa cidade principal e voltarmos, eram mais do que
suficiente para que o inimigo desaparecesse novamente.
Analisei todas as minhas possibilidades calmamente. Deixá-los
fugir ou tentar, de alguma forma, frustrar os seus planos. Minha equipe era
realmente equilibrada. Cada um dos meus companheiros era especialista em
dominar um elemento. Esse era o primeiro ponto que eu tinha que manter em
mente, nós éramos fortes, muito fortes, mas juntos. Eu sabia que, apesar de
essa ser minha primeira missão como líder, eu estava sendo treinado para ser um
líder de elite. Há muitos anos não nascia ninguém no Oeste com afinidade com
todos os elementos. Eu era quase uma lenda, apesar de não gostar de ser tratado
assim. Fazer parte dos exércitos era uma honra, aqueles que conseguiam
ingressar nas linhas de combate eram tratados quase como os Reis que governavam
essas terras antes que os exércitos tomassem o poder. Apesar disso, nunca foi
realmente meu sonho fazer parte tão efetivamente dessa guerra. Meu pai nunca
teve nenhuma afinidade com qualquer elemento e eu nunca conheci minha mãe,
portanto, não tenho como saber de onde surgiu tamanho poder, mas toda essa
afinidade decidiu o meu destino antes que eu pudesse sequer pensar no que eu
gostaria de fazer com a minha vida.
Sempre pensei que continuaria o oficio do meu pai. Como
filho único, seria natural que eu assumisse o seu negócio quando chegasse à
idade adulta. Meu pai podia não ter afinidade com qualquer elemento, mas
produzia armas que se moldavam aos elementos como ninguém. Quando criança, eu sentava ao seu lado por
horas e horas, apenas para poder vê-lo transformar vidro e metal em peças
fantásticas, mas eu nunca realmente pude sequer aprender como aquilo era feito.
Desde a escola, nós somos estimulados a encontrar afinidade
com algum elemento. Isso é extremamente essencial para aumentar o poder do exército
de uma região, supondo que todas as guerras são travadas por pessoas que podem
manipular algum elemento. Eu fui o que mostrei afinidade com um elemento mais
rápido do que qualquer estudante de que se tinha notícia.
Eu não era mais do que uma criança quando consegui mover uma
grande quantidade de terra de um lugar a outro. Aquilo era um grande feito,
mesmo para alguém que já tenha efetivamente iniciado o seu treinamento. Todos
ficaram entusiasmados, isso até eu começar a demonstrar familiaridade com todos
os outros elementos. De entusiasmados eles foram para eufóricos e de eufóricos
decidiram que eu deveria ir imediatamente para o treinamento. Geralmente,
crianças não iam para o treinamento, mas ninguém sequer perguntou o que eu
queira ou se meu pai permitiria. Era algo que eles não viam há muitos anos,
alguém que poderia ser usado como uma arma perfeita.
Não se viam muitos líderes com a minha idade, mas, como eu
fui muito cedo para o treinamento, agora eu estava aqui, com um esquadrão em
minhas mãos e com o nosso maior inimigo a alguns passos. Eu sabia que não
poderia virar as costas e deixá-los desaparecer novamente. O exército do Sul
era conhecido exatamente pelo seu rastro de destruição. Eles raramente eram
vistos. Tudo o que sempre sobrava era morte e desespero na poeira que eles
deixavam pelo caminho.
Eu sabia que não poderia voltar, por mais que o comandante
supremo fosse querer me matar por me arriscar de forma desnecessária, essa foi
uma de suas ordens, não me arriscar em hipótese alguma, mas eu não seria um
verdadeiro líder do exército do Oeste se virasse as costas para aquelas
pessoas. O meu esquadrão, aqueles que eram muito mais do que meus subordinados,
eles eram meus amigos, pessoas que cresceram comigo, não me respeitariam se eu
os obrigasse a abandonar toda aquela gente.
- O plano é o seguinte. – Comecei, tentando não deixar minha
voz titubear. Por mais que eu soubesse que tinha mais poder do que qualquer um
deles, do que talvez qualquer um daquele exército inteiro, aquela
responsabilidade era algo que eu realmente nunca almejei conquistar, mas não
queria os decepcionar, muito menos deixar alguém se machucar. – Eles estão em
volta da parte leste da montanha. Ao que parece, eles estavam acampando do lado
de dentro. Agora estão saindo para ir embora. Não é fácil, nem rápido,
locomover um exército desse tamanho, então nós vamos entrar pelo outro lado,
abrindo caminho até chegar onde eles estão. Com a proteção da montanha será
mais difícil que eles nos ataquem de uma só vez. Vamos estar protegidos e, com
sorte, conseguiremos aguentar os dois dias que serão necessários para que o exército
do Oeste mande reforços.
- Mas, Léo, como nós vamos fazer para que eles saibam que
algo está acontecendo? – Eu já estava esperando essa pergunta e fiquei feliz
por ser Rodrigo o responsável por ela.
- Nós teremos que chamar a atenção de alguma forma, Rodrigo.
E tenho certeza que você terá um grande papel nessa parte.
Rodrigo sorriu, sabendo que a sua afinidade com o fogo seria
necessária. Ele era uma pessoa até calma, mas sabia ser esquentado quando necessário.
Os outros assentiram e começaram a descer de onde nós estávamos. Perderíamos o exército
de vista, mas tínhamos que entrar na montanha pela base do lado oposto.
Rodrigo, Diego e Fernando já estavam bem adiantados quando
eu olhei para trás. Rebeca estava bem atrás de mim, mas eu gostava de saber
onde meu esquadrão estava, principalmente em uma situação de perigo real. Ela
sorriu e acelerou o passo. Rebeca tinha a minha idade, mas foi enviada para o
treinamento alguns anos depois de mim. Na verdade, ela começou seu treinamento
com a idade apropriada, a minha afinidade super especial que fez com que eu
tivesse que abrir mão do resto da minha infância e do convívio familiar mais
cedo.
Rebeca não era mais do que uma garota assustada nos seus primeiros
dias. Eu treinava arduamente, mas, como qualquer outro “veterano”, também dava
aula aos novatos. Aquela era a primeira turma em que as pessoas tinham a minha
idade, então, um pouco menos assustador. Era complicado ensinar algo para
pessoas mais velhas do que você, mesmo que o seu conhecimento fosse maior. Por
mais que conhecessem a minha história, elas não me respeitavam o suficiente por
conta da minha idade e eu tive muitos problemas nessa fase.
Mas eu tinha certeza que aquela menina não teria problemas
em me respeitar, mesmo que eu fosse muito mais novo do que ela, o que não era o
caso. Ela tinha problemas próprios para lidar. Quando alguém é enviado ao
treinamento, é porque a sua afinidade com algum elemento era muito clara na
escola. Ninguém era enviado sem a total certeza de que aquela pessoa dominaria
aquele elemento.
Nos primeiros dias, a única prova que eu tinha que o seu
elemento era a água era o seu histórico escolar. Nunca vi alguém parecer tão
sem nenhuma afinidade quanto ela, não entre aqueles escolhidos para o
treinamento. Ela não parecia conseguir controlar a água nem involuntariamente,
algo muito comum no começo. A única água que sempre jorrava descontroladamente
era de seus olhos, durante seu desespero de provar que realmente podia fazer
aquilo.
Eu nunca tinha visto alguém tão desesperado. Me lembro de
ter deixado o meu próprio treinamento de lado por vários dias, por mais que eu
tenha sido punido por isso, apenas para ajudá-la a encontrar o seu equilíbrio.
Quando ela finalmente entendeu como ela devia controlar a
água para que ela agisse conforme os seus comandos, foi um jorro de felicidade,
tanto para Rebeca quanto para mim. Com tantas pessoas mais velhas a minha
volta, eu nunca consegui ser realmente próximo de ninguém, até aquele momento.
Por mais que ela não precisasse mais da minha ajuda, não se afastou, e nós nos
tornamos grandes amigos.
Eu a conhecia bem o suficiente para saber que aquele sorriso
escondia o seu nervosismo.
- Está tudo bem? – Não pude deixar de perguntar, por mais
que soubesse o quão estupida era a minha pergunta.
- Tirando o fato que nós somos apenas cinco, apesar de você
contar por uns dez, e de termos que enfrentar um exército inteiro? – Ela riu
novamente. Eu percebi que talvez ela apenas tentasse segurar as lágrimas. –
Tirando isso, está tudo bem.
Ela abaixou o olhar por um momento e todo aquele plano
elaborado na minha cabeça começou a apresentar milhões de falhas. Rebeca seria
uma líder muito melhor do que eu. Ela era esperta, sabia pensar em todas as
possibilidades, sempre estava a um passo à frente de tudo o que eu imaginava.
Eu estava prestes a dizer todas essas coisas, e interromper o nosso plano,
quando ela continuou.
- Está tudo bem mesmo, Léo. – Ela repetiu, com muito mais
firmeza dessa vez. – Eu confio em você e sei que você está fazendo o que é
certo.
Eu entendia exatamente o que ela queria dizer. Entre as
nossas escolhas, seria fácil virar as costas e ir embora, mas não seria o
certo. Nós erámos apenas cinco, diante de um exército, porém, era melhor morrer
lutando, do que viver com aquele ato covarde para o resto de nossas vidas.
Nossa muito bem escrito queria mais rsrsrsrrs adorei um misterioso conto na qual a muitas coisas a serem descobertas adoro assim.
ResponderExcluirAbraços
Muito obrigada!!!
ExcluirEsse conto vai ser um pouco mais longo que os outros, então, tem bastante coisa pra acontecer :D
Espero que você goste!
UAU!!! Muito bom o conto...Esperando ansiosamente pela continuação. Parabéns Caminho Cultural.
ResponderExcluirMuito obrigada! :D
ExcluirOi, Jana!
ResponderExcluirAchei super interessante isso deles poderem controlarem os elementos, e tô bem curiosa pra ver como derrotarão ou se derrotarão esse exército.
Bjo <3
Espero muito que você goste, Dilza, mas, se não estiver gostando, também pode falar... hehehe. Estou me arriscando nesse mundo de escrever, então tenho muito o que aprender :D
ExcluirSim, estou gostando bastante! rsrs É que por enquanto não tenho uma opinião completamente formada por ser o início da história, mas promete ser muito boa! :D
ExcluirVamos aguardar as cenas dos próximos capítulos :D
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