O Ódio que Você Semeia

| 23 dezembro 2018 |

Autora: Angie Thomas
Editora: Galera Record
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Star já tinha visto uma amiga morrer na sua frente. Star também estava com Khalil quando um policial branco os abordou e atirou em seu amigo. Ele morreu em seus braços. Ele estava desarmado. Eles não se viam há muito tempo. Star não sabia com o que o amigo estava se metendo. Drogas? Armas? Gangues? Algo justificaria um assassinato a sangue frio? Algo justificaria um policial atirar em um garoto desarmado?

Star era apenas uma criança quando viu Natasha ser morta. Star não era mais uma criança. Ela era a única testemunha de um crime. Um crime como muitos outros que ficam impunes. Star estava com medo. Medo da polícia, medo das gangues, medo por sua família. Mas agora ela tinha voz, ela sabia a verdade. Só restava a Star decidir se teria coragem o suficiente para usar essa sua arma, usar sua voz para que a morte de seu amigo não virasse apenas mais uma estatística de um policial branco assassinando um garoto negro.

Ler essa obra não é algo fácil. É completamente diferente de acompanhar as notícias na televisão, de ver os protestos ou os julgamentos que quase sempre têm o mesmo resultado. Ler esse livro não é apenas acompanhar uma história de ficção, é entender o quanto a realidade dessas pessoas pode ser cruel, o quanto a segregação racial ainda é uma realidade dura e triste, o quanto o preconceito ainda existe e impede que crianças tenham condições iguais de estudo, depois trabalho e sejam vistos como iguais. Não sejam obrigados, como Khalil, a fazer coisas que abominam, mas que a vida não lhes deu outra opção.

Star narra esse livro não apenas nos mostrando as injustiças do seu mundo, mas nos fazendo entrar em sua pele, entendendo os seus sentimentos e medos. Ver um amigo ser morto na sua frente, contar a verdade e ver que nem isso pode fazer com que quem cometeu um crime pague pelos seus erros. Se falar a verdade para a policia não faria diferença, talvez só restasse para a protagonista gritar ainda mais alto, algo que todo o mundo pudesse ouvir.

É angustiante ver o modo de vida da personagem principal. Não poder confiar na policia, não poder confiar no lugar onde vive, onde as gangues mandam e desmandam ao seu bel prazer. O único lugar em que ela poderia ficar em paz era na escola, um lugar de pessoas ricas, predominantemente brancas, onde os pais fizeram questão de mandá-la estudar com o irmão. Apesar de não temer por sua vida, ela tinha que se esforçar para fingir ser como eles, para que em nenhum momento ela começasse a ser tachada como alguém que morava exatamente onde ela vivia.

Essa contradição é algo muito compreensível, estamos falando de uma adolescente, fora de seu ambiente, que deseja se encaixar a todo custo. Ela tem um namorado que ama imensamente, mas que também cria conflitos dentro dela, exatamente pelo fato dele ser branco.

Esse preconceito está entranhado em todos os personagens, inclusive em Star, mesmo que ela não perceba. A todo o momento somos bombardeados com brigas de gangues ou preconceitos raciais. Como é possível alguém viver dessa forma? Como é possível uma adolescente realmente achar sua voz vivendo com tanto medo? Quando Star se dá conta que o medo não pode ser maior do que sua vontade de lutar por mudanças, seu ódio é direcionado para algo bom, algo que se nós todos nos inspirássemos, esse mundo poderia ser um lugar melhor.

"O Ódio que Você Semeia" é um livro que todos deveriam ler. Impossível não terminar essa narrativa abalado de forma irreversível. Vemos o quanto esse mundo está repleto de ódio, o quanto ele é semeado por todos os lados e o quanto os conflitos jamais deixarão de existir, a não ser que cada um de nós, assim como Star, encontre a sua voz.

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