A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 11)

| 06 fevereiro 2016 |

Alex se levantou abruptamente, seu rosto tomado por descrença. E medo. Ele olhava de sua mão ensanguentada para o meu rosto, sem saber como agir.

Se meu coração já não estivesse pesando como uma pedra, provavelmente eu sentiria a apunhalada quando ele começou a se afastar, tentando ficar o mais longe possível de mim.

- O que é você?

Foram as únicas palavras que saíram de seus lábios. Eu tentei formular alguma explicação coerente, pensei até se seria melhor contar a verdade, mas não tive tempo. Seu choque e descrença se transformaram em raiva em questão de segundos.

- É você? – Ele começou, com um olhar que eu nunca gostaria de ter visto. – A amaldiçoada que o Rei está procurando? Eu devia ter reconhecido pelos cartazes, visto as semelhanças. Você é bonita demais para estar tanto tempo vivendo nas ruas, eu devia ter desconfiado.

Em outro momento, eu teria me sentido envaidecida pelo elogio, mas agora meu desespero era muito maior do que a minha vaidade.

- Eu quero que você vá embora agora da minha casa. – Ele apontou para a saída, com a mão tremendo quase imperceptivelmente. Ele estava com medo de mim.

- Alex... – Eu comecei, precisava me explicar. – Eu fui amaldiçoada por uma mulher que trabalhava no meu palácio. Eu sou Cecília, a Princesa, filha do Rei. – Não pude deixar de sorrir pelo orgulho de pronunciar essas palavras novamente. – Eu estou aqui porque preciso de ajuda, preciso quebrar essa maldição e voltar para a minha casa. Se eu voltar, posso ajudar vocês, ajudar todas essas pessoas.

Eu realmente não tinha pensado naquilo até aquele momento, mas, após dizer aquelas palavras, sabia que era o certo. Seria perfeito. Levaria Alex para o Palácio, ele seria o responsável por essa tarefa e o Rei teria que concordar. Ele estaria tão feliz com o retorno de sua única filha que não faria nenhuma objeção.

Aqueles pensamentos eram tão perfeitos que eu não pude evitar sorrir. Quando olhei novamente para Alex, meu sorriso desvaneceu.

- Eu não quero ter nenhum tipo de relação com a amaldiçoada que sequestrou a Princesa. Se você tem algum tipo de humanidade, vai embora da minha casa e me deixar em paz.

Ele parecia começar a ficar desesperado. Isso também trouxe lágrimas aos meus olhos. Eu estava entre Alex e a única porta daquele lugar. Talvez apenas por isso ele ainda não tenha saído correndo.

Para onde eu iria? Não queria ir embora. Ficar ao lado de Alex era o que eu mais queria no mundo, o que eu mais precisava no mundo. Não podia novamente ficar sozinha. Não sabia como quebrar aquela maldição, então ainda não podia voltar para casa. O que eu faria?

Eu não podia ir embora. Quando decidi que convenceria Alex de que estava dizendo a verdade, um barulho do lado de fora chamou nossa atenção.

- Em nome do Rei, todas as casas serão revistadas. Todas as pessoas devem sair calmamente. Não estamos procurando pertences ou moedas ilegais. Esse é um assunto de segurança para todo o Reino.

Alex me encarou, novamente com medo. Nós dois sabíamos exatamente o que eles estavam procurando. Sem pensar, peguei uma de suas capas e joguei em meus ombros. Saí sem olhar para trás. Pensei tê-lo ouvido chamar o meu nome, mas isso só poderia ser obra da minha imaginação.

___________________________________________________________________________ 

Tentar andar sorrateiramente em direção a floresta foi o meu primeiro erro.

- Pare imediatamente! – Disse uma voz as minhas costas.

Eu parei, com o capuz na cabeça, ele só veria o meu rosto se se aproximasse. Por mais que eu estivesse diferente do retrato, qualquer um que observasse calmamente, que estivesse realmente me procurando, veria ao menos algumas semelhanças.

Ouvi passos apressados vindo em minha direção.

- Você! – Foi o grito que eu ouvi as minhas costas, mais distante do que eu imaginaria.

Tentando não chamar muita atenção, virei levemente o rosto, ainda encoberto pelo capuz, para tentar ver se algo, se seria possível com alguma abençoada distração seguir o meu caminho, mas meu coração perdeu mais um compasso, se ainda restava algum para ser perdido.

O guarda estava diante de Alex, que ficou na porta me encarando, ainda perplexo, durante alguns instantes. O guarda estava com alguns papeis em mãos, olhando deles para Alex, até que encontrou o que ele procurava.

- É você mesmo. – Ele disse, com um prazer quase indecente.

Alex finalmente desviou seu olhar de mim para o guarda, seu rosto perdendo a cor. Eles poderiam estar atrás de algo maior, mas não deixariam passar um criminoso procurado.

O seu retrato, nas mãos do guarda, era perfeito. Alex, sempre tão cuidadoso, talvez tenha sido visto por algum nobre com uma memória impecável.

Vários outros guardas se juntaram ao primeiro, prontos para o ataque. Aquilo não podia estar acontecendo. O que Alex fazia era importante demais para que ele fosse preso, jogado em uma cela enquanto outras pessoas continuavam morrendo de fome ao relento.

Ele também parecia ter percebido isso, pois estava preparado para lutar. Quando os guardas sacaram as espadas, eu percebi que talvez suas ordens não fossem de fazer prisioneiros.

Algo começou a crescer dentro de mim. Uma raiva e uma necessidade de proteger alguém, que eu nunca tinha sentido. Voltei com passos decididos, apesar do meu coração estar martelando em meu peito.

Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Alex levantou seus olhos em minha direção. Um dos guardas, percebendo o seu olhar, virou para ver o que lhe chamou a atenção. O reconhecimento em seu olhar era claro, assim como sua sede de sangue.

Ele levantou sua espada, pronto para me atacar. Alex saltou em sua direção, sem prestar atenção aos outros guardas, sendo facilmente atacado. Seu corpo tombou devagar, como se o mundo estivesse em câmera lenta.

O grito que cortou minha garganta foi algo sobrenatural. Mesmo a invasão daquela sensação maravilhosa não diminuiu a dor que eu estava sentindo. Abri meus braços tentando me livrar de todos aqueles sentimentos que estavam explodindo dentro de mim. Meus ouvidos zumbiam com a intensidade do vento. Quando o som diminuiu, e eu respirei profundamente, foi como se tivesse libertado algo das profundezas do meu ser.

Nem percebi que tinha fechado os olhos, mas o silêncio a minha volta me fez ter medo de abri-los. Quando um gemido baixo e profundo interrompeu aquele silencio cortante, eu finalmente olhei o cenário a minha volta.

Era exatamente a cena da floresta. Árvores e mais árvores destruídas. Cortadas de forma perfeita.

Mas, dessa vez, não era uma floresta que estava em meu caminho.

4 comentários:

  1. Eita Jana!
    Que emocionante!
    Quero mais, quero saber o que vai acontecer...
    “Na juventude deve-se acumular o saber. Na velhice fazer uso dele.” (Jean-Jacques Rousseau)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    Top Comentarista fevereiro, 4 livros e 3 ganhadores, participe!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. No próximo sábado tem mais :D
      Obrigada por acompanhar <3
      Beijos!!!

      Excluir
  2. Inveja dessa sua mente criativa, sério. Eu malema faço um 'textinho'.

    ResponderExcluir