A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 6)

| 26 setembro 2015 |
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Depois do que pareceu uma eternidade, com aquele homem me encarando, e eu pensando se deveria começar a gritar ou sair correndo, finalmente ele decidiu falar alguma coisa.

- Qual o seu nome? – Ele perguntou me olhando, parecendo querer analisar cada parte do meu rosto.

- Cecí... – Comecei a dizer meu nome, mas parei, me dando conta de que talvez isso não fosse uma boa ideia.

- Cecí? – Ele perguntou de forma levemente irônica, parecendo achar graça naquele nome estranho. Isso foi um alívio, porque pelo menos serviu para diminuir aquela forma intensa com que ele me olhava. – Um nome... singular. – Ele pareceu ter alguma dificuldade para encontrar aquela última palavra.

Abaixei a cabeça, sem saber o que responder. Agora que a fome não era exatamente a principal coisa que passava pela minha cabeça, eu não sabia o que faria naquele momento, ou o que faria com a minha vida. Aquele homem pareceu ler meus pensamentos, e me perguntou algo que eu não sabia o que deveria responder.

- Então, Cecí, o que você vai fazer agora? Tem algum lugar para onde ir?

Eu não era tão idiota a ponto de pensar que o estado das minhas roupas e o meu desespero por comida não respondessem a sua pergunta. Por mais que eu realmente tivesse para onde ir, diferente de todas aquelas outras pessoas miseráveis que estavam ali, eu não podia voltar para a minha casa. Não naquele momento. Não sei se foi meu silêncio, ou meu olhar, mas ele não esperou por muito tempo por uma resposta.

- Se quiser, eu posso ajudar você. – Ele me encarou novamente, como que imaginando o que poderia fazer comigo. Eu só não consiga definir se aquilo poderia ser algo bom ou ruim. – Venha comigo.

Ele virou as costas, sem esperar uma resposta e sem ver se eu estava realmente indo atrás dele. Como aquele homem estava indo para a parte mais movimentada do vilarejo, eu decidi que não me faria nenhum mal ir atrás dele. Eu poderia escapar mais facilmente em meio a outras pessoas.

Quando eu finalmente decidi que não ficaria com ele por muito tempo, nós finalmente estávamos em um lugar repleto de pessoas, mas eu pude perceber naquele momento o que eu não vi antes, em meio ao meu desespero por comida.

Quando eu vi a cavalaria do meu Reino, pensei que talvez eles tivessem realmente me procurando, afinal de contas, eu sou a princesa, mas, nunca imaginei que meu pai chegaria a aquele ponto.

Cartazes com meu rosto estavam espalhados em vários lugares. Aquele era um dos meus melhores retratos, eu estava linda, arrumada e radiante, o que era a minha sorte. Ninguém me reconheceu naquele estado catastrófico que eu estava agora, o que provavelmente teria acabado totalmente comigo, porque, ao invés de meu pai escrever que ele estava procurando por sua filha, o cartaz estava à procura da amaldiçoada que havia levado a princesa. Com a minha foto. Isso era como se ele quisesse acabar comigo, completamente. E a recompensa era sem precedentes.

Olhei para os lados ansiosa, sem saber como agir. Se alguém me reconhecesse, seria meu fim. O que me restava naquele momento, era abaixar os olhos e seguir aquele desconhecido que tinha, por tanto tempo, me encarado de forma minuciosa. Só me restava torcer para que ele não tivesse me reconhecido e estivesse atrás de sua recompensa.

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Andamos por algum tempo, até chegarmos a uma casa, ainda dentro do vilarejo, mas não em sua parte mais povoada.

Ele abriu a porta e não me convidou para entrar, mas a deixou aberta, e eu segui em frente. Não havia muitos móveis, apenas absolutamente o básico e necessário. Parecia ter mais alguns cômodos, o que eu não conseguia realmente ver. Talvez homens precisassem de menos coisas para sobreviverem mesmo. Ele tirou a capa que estava vestindo e a jogou de qualquer jeito em uma poltrona, na qual ele se sentou. Olhei para os lados, e já ia me sentar em uma poltrona próxima, mas ele me impediu.

- Você está imunda. – Não pude deixar de enrubescer com o seu comentário.  – Vá se lavar primeiro, depois nós conversamos. Ali é o banheiro. – Ele apontou para uma porta adiante. – Você vai encontrar uma capa limpa ali dentro, em um armário, pode usá-la se quiser.

Sem fazer mais nenhuma pergunta, fiz o que ele disse. Tranquei a porta, aliviada de que ali tivesse uma chave. A capa da qual ele me falou, era bem parecida com a que ele mesmo estava usando, e cobriria todo o meu corpo. Aquele capuz também seria bem útil, quando eu saísse e precisassem tampar meu rosto.

Me lavei e consegui perceber vários arranhões e machucados, principalmente nas partes que estavam descobertas. Meus pés estavam em um estado lamentável, assim como meus tornozelos. Meu rosto também estava queimado pelo sol, coisa que nunca tinha me acontecido. Detestei me olhar no espelho, mas, pelo menos fiquei satisfeita em ver que as minhas feições estavam muito diferentes da princesa dos cartazes.

Com o rosto mais queimado, como se eu fosse uma trabalhadora comum, sem minha maquiagem usual e com o cabelo jogado de qualquer jeito, sem um elaborado penteado, talvez, se eu fosse extremamente cuidadosa, pudesse passar sem ser reconhecida, até encontrar uma forma de quebrar aquela maldição e provar para todos que eu era a princesa.

Mas, aquele era outro grande problema. Se aquela amaldiçoada falou a verdade, eu teria que abrir mão da coisa mais importante da minha vida. O que poderia ser mais importante do que eu ser uma princesa? Mas, isso era algo que eu não tinha no momento, e exatamente o que eu estava lutando para conseguir de volta. Eu não fazia ideia do que poderia ser.

Porém, não era hora de pensar naquilo. Eu tinha problemas mais urgentes, como o homem misterioso que estava me ajudando, mas que eu não fazia ideia a que preço.

4 comentários:

  1. Jana!
    Tão interessante ler o conto em partes...
    Muito bom!
    “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.”(Vinicius de Moraes)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
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  2. Esses tempos sem internet me fez ter uma saudde do CC e desse conto que está maravilhoso!!!hahhahaha <3

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    1. heheeh, que bom que está gostando (e que voltou a ter internet :D)
      Beijos!!!

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