A Batalha dos Elementos (Parte 5/7)

| 25 julho 2015 |



Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu sabia o quanto todos haviam ficado felizes em descobrirem alguém com o meu talento, porque isso era algo muito raro. Eu estava treinando para ser um líder, exatamente pelo tamanho do poder que eu tinha, mas nunca imaginei que eles poderiam me usar como uma arma e muito menos que haviam outras pessoas como eu nos exércitos do Oeste e que se recusavam a usar o seu poder para lutar pelo seu grande líder. Por que não lutar para defender as suas terras e os seus moradores se você tem poder para isso?

Será que havia algo por trás do intuito dos exércitos do Oeste? Algo além de defender o nosso lar e nos defender?

- Escute, Léo. – Aquela mulher, que eu nem sabia que nome tinha, se abaixou novamente ao meu lado. – Você vai ser forte, muito forte quando terminar o seu treinamento e eu quero você ao meu lado, meu querido.

Ela acariciou o meu cabelo, como uma mãe faria, mas eu senti algo forçado em seu gesto, como se ela também não estivesse à vontade com aquela demonstração de carinho.

- Você quer que eu fique ao seu lado? – Agora foi a minha vez de rir sem emoção. – Para fazer o que, mamãe? Matar e torturar pessoas? Destruir os seus lares? Porque é isso que vocês do Sul fazem. Ou vai dizer que torturar essas pessoas foi apenas obra da minha imaginação?

Ela se levantou novamente e não parecia espantada com a minha resposta. Levantando apenas dois dedos, ela fez um sinal que eu não entendi, mas percebi uma movimentação naquela direção.

Quatro pessoas estavam sendo arrastadas para onde eu estava. Eles estavam com os pés e braços amarrados, sem possibilidade de se locomoverem, a não ser sendo arrastados por aquela terra seca. Um rastro de sangue era deixado por onde eles passavam, e meu coração congelou ao perceber de quem se tratava.

Eu tentei não pensar no destino do meu esquadrão até aquele momento. Todos estavam muito machucados, era claro, mas não pude deixar de soltar um suspiro de alívio ao ver todos eles vivos.

Meu olhar automaticamente encontrou com o de Rebeca, que fez um esforço para esboçar um sorriso em minha direção. Senti algo palpitar dentro de mim ao lembrar dos nossos últimos momentos juntos. Isso acendeu uma chama dentro do meu peito que só me fazia pensar que eu tinha que achar alguma forma de tirar meus amigos daquele lugar em segurança.

Não sabia quanto tempo havia ficado desmaiado. Poderiam ser horas ou dias. Eu torcia para que fosse tempo o suficiente para que o exército do Oeste estivesse perto, mas não podia contar somente com isso.

Aquela mulher havia usado sua afinidade naturalmente, bem ao meu lado, portanto, aquilo dentro da montanha que estava nos afetando não deveria fazer efeito aqui fora. Seria muito fácil manipular a terra para me libertar e criar uma distração para que eu pudesse chegar até eles.

Eu parei para me concentrar, para sentir a minha afinidade, no mesmo momento em que senti algo sendo puxado de dentro de mim. Tive que me segurar para não gritar, mas era como se algo essencial fosse tirado a força.  Me senti imediatamente fraco e sozinho.

- Não adianta nem tentar. – Minha mãe olhava em minha direção, sabendo exatamente o que eu tinha tentado fazer. – Pessoas como nós, mas que não passam pelo treinamento, são completamente inúteis. Não faz nenhuma diferença ter grandes habilidades se você não sabe como controlá-las. Eu sabia que seu pai não saberia que ele deveria te avisar para não mostrar as suas afinidades e que você seria treinado, então, como a última nascida no exército do Sul com todas essas afinidades, tive que tomar algumas precauções.

Como que conjurados por suas palavras, quatro pessoas vestidas com capas compridas e seus rostos cobertos com capuzes, surgiram das quatro direções. Eles pareciam apenas andar calmamente, mas as suas mãos estavam posicionadas de forma estranha. Polegares e indicadores juntos, formando um triângulo, mas, o mais estranho, e que eu poderia jurar que havia algum tipo de energia no centro de cada um daqueles triângulos.

- Esses são meus anuladores – Ela começou a explicar. – Eles são mais raros do que pessoas como nós. Foi muito difícil encontrar um anulador de cada elemento para você, mas hoje eu tive a prova de que minha busca valeu a pena.

Aquilo era inacreditável. Eu nunca tinha ouvido falar de algo assim. Pessoas com a capacidade de anular as afinidades.

Olhei para Rebeca, mas ela parecia tão confusa quanto eu. Nenhum de nós jamais soube da existência desse tipo de poder, mas agora era possível entender o que aconteceu no interior da caverna. Nossas afinidades começaram a falhar assim que eu mostrei a afinidade com um segundo elemento. Aqueles anuladores não tinham sido usados antes porque eles estavam sendo guardados apenas para mim. Agora isso era bem claro.

A situação claramente se complicou. Eu era especial, alguns diriam que eu era quase invencível com as minhas habilidades, mas, sem elas, eu não era nada. O desespero estava começando a tomar conta de mim. Olhei para os meus companheiros esperando que nós pudéssemos fazer uma nova, porém silenciosa, despedida.

O que eu encontrei em seus olhares não foi o desalento que eu esperava encontrar. Eles não estavam ali comigo apenas porque alguém os obrigou, eu percebi naquele instante. Eles estavam comigo porque confiavam em mim, inclusive naquele momento. Eu nunca quis tanto algo na minha vida quanto eu queria ser digno daquele olhar. Eu teria que deixar aquela falta de confiança de lado para não os decepcionar.

- O que você pretende fazer? – Perguntei para minha mãe, tentando ganhar tempo.

- Eu não estava apenas dizendo algo da boca para fora quando disse que quero você ao meu lado. Meu pai lutou anos nessa guerra sem que houvesse uma vitória significativa de lado algum. Mas tudo mudou com a minha existência, e ainda mais com a sua. Quando você estiver totalmente treinado, não haverá ninguém em terra alguma que poderá nos enfrentar. Essa guerra irá terminar e o exército do Sul terá todo o poder que nós merecemos.

- E por que você acha que eu vou te ajudar?

Ela não me respondeu imediatamente. Andou em direção aos meus companheiros e olhou um a um pacientemente. Não consegui impedir um suspiro quando ela parou perto de Rebeca, o que não passou despercebido.

Rebeca foi arrastada até um pouco mais perto de onde eu estava, com o uso da manipulação de terra.

Por mais que ser arrastada daquela forma devesse machucá-la, ela não demonstrou em nenhum momento estar sentindo dor. Aquela coragem que ela demonstrava era um dos motivos que me faziam amá-la, mesmo que antes eu não soubesse disso.

A evolução de Rebeca foi maravilhosa. De uma menininha assustada, que mal conseguia controlar o choro, quem dirá uma afinidade, para uma mulher forte e corajosa e que confiava plenamente em mim. Era o que eu seu olhar me dizia.

Eu mal percebi quando minha mãe ficou bem próxima a Rebeca, a ponto de alcançar os seus cabelos e levantá-los, para que de forma alguma o seu olhar desviasse de meu rosto. Ela provavelmente queria que eu visse o medo em seus olhos, mas ela não iria conseguir.

- Você vai ficar ao meu lado simplesmente porque você vai escolher manter os seus amigos em segurança, porque eles são importantes para você, porque eles precisam que você colabore para que eles continuem vivos. A escolha é simples, ou você colabora comigo ou todos vocês morrem.

Como Rebeca estava olhando diretamente em minha direção, então pude vê-la revirando os olhos diante daquele discurso ridículo. Eu amava os meus amigos, eu nunca faria nada que os prejudicasse, porém, sei que eles jamais me perdoariam se eu ferisse e matasse muitas pessoas inocentes apenas para mantê-los em segurança.

Se nós estávamos naquela situação, era exatamente por não ter virado as costas para os moradores das montanhas. Cada um de nós sabia o quão suicida era aquela missão, porém, em momento algum alguém sequer cogitou voltar sem ao menos tentar.

Mas aquela mulher não saberia a diferença entre derrubar pessoas sem misericórdia e se levantar para lutar por elas. Talvez aquela fosse minha melhor oportunidade.

- Não os machuque. – Eu tentei colocar o melhor tom de desespero que eu poderia em minhas palavras. – Eu faço o que você quiser, mas os mantenha em segurança.

Enquanto minha mãe sorria de satisfação e levava Rebeca novamente para junto dos outros, eu pude ver o olhar de confusão na face de cada membro do meu esquadrão. Eles me conheciam o suficiente para saber que eu realmente não faria o que ela queria, mas não faziam ideia do que eu estava tramando. O que era de se esperar, porque nem eu fazia ideia de qual seria o meu próximo passo.

Minha mãe não disse mais nada, e mandou nos tirarem dali. Nós fomos separados, mas eu tentei não me preocupar. Nosso trato dependia de que eles permanecessem bem. Nada me obrigaria a lutar por ela se algo acontecesse a eles.

PARTE 6

2 comentários:

  1. Nossa, que raiva da mãe dele!!
    Tô curiosa pra saber o que ele vai fazer pra salvar os amigos, e acho que prevejo mortes! hahahah
    Bjo, Jana <3

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    1. Será? hehehe
      Estamos na reta final, em breve você saberá de tudo... ou não :D
      Beijos!!!

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