A BATALHA DOS ELEMENTOS (PARTE 4/7)

| 18 julho 2015 |
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Foi um beijo suave e doce, porém, muito mais do que uma despedida entre grandes amigos. Se antes eu sentia um peso no meu coração, agora parecia ele iria explodir de tanto desespero.

Rebeca finalmente abriu os olhos, soltou meu rosto e deu um passo para trás. Não parecia nem um pouco envergonhada, apenas triste pelo o que tinha acontecido.

- Eu não queria morrer sem ter feito isso. – Ela virou as costas e começou a andar em direção ao túnel que ela tinha escolhido.

Agora eu podia entender completamente o sentido do “Eu te amo” que ela tinha dito. Eu nunca tinha comparado Rebeca e Sophia antes. Sempre tive as duas na minha vida de formas completamente diferentes, porém, nenhum momento com Sophia havia feito com que eu sentisse algo nem próximo a essa sensação de dor e perda. Eu não queria que Rebeca saísse do meu lado, eu não queria que ela entrasse naquele túnel, eu não queria que ela se machucasse e, acima de tudo, eu queria repetir o meu “Eu te amo” de outra maneira.

Eu andei em sua direção sem pensar direito no que estava fazendo. Pela primeira vez em minha vida, meus instintos pareciam agir por conta própria. Ela pareceu muito espantada quando eu puxei seu braço, mas foi um espaço muito curto de tempo entre sua primeira reação, eu trazer novamente seu corpo junto ao meu e fechar os olhos, para que nossos lábios se encontrassem, para que eu pudesse notar mais alguma coisa.

Nunca havia beijado ninguém além de Sophia. Ela sempre foi tão meiga em tudo, que seus beijos eram da mesma forma, algo bom e natural. Beijar Rebeca era como um ato mais selvagem e primitivo. Tudo nela me fazia desejar ter cada vez mais do que ela pudesse me oferecer, de corpo e alma.

Não me importava mais se tinha um exército inimigo que pudesse nos atacar a qualquer momento ou se nossos amigos estavam em perigo. Tudo o que me importava era ter o corpo da mulher que eu amava junto ao meu. Porque essa era a única certeza que eu realmente tinha, a maior certeza da minha vida.

Eu mal percebi quando ambos estávamos estirados no chão. Nos tocando com uma clara necessidade de querer mais e mais do outro. Rebeca não tinha dito nenhuma palavra e não era preciso.

A barra de sua blusa estava bem segura em minhas mãos e eu desloquei um pouco o peso do meu corpo para poder puxá-la para cima, quando ouvidos um barulho ensurdecedor.

Minha primeira reação foi cair ao lado do corpo de Rebeca e tampar os ouvidos, porém, o que quer que fosse, parecia estar se aproximando por um dos túneis que nós deveríamos estar desbravando nesse momento.

Rebeca foi a primeira a se levantar. Em um gesto quase instintivo, eu segurei  sua mão e nós seguimos correndo de volta pelo nosso caminho original. A pedra feita por Rodrigo não iluminava uma longa distância, mas o barulho aumentava consideravelmente. Parecia algo grande, raspando por toda a extensão do túnel.

Rebecca olhou por um momento para trás, e me encarou, assustada como nunca.

- Estamos sendo atacados por alguém com afinidade com a terra.

Tentei me concentrar, para poder ver se conseguia acessar novamente minhas afinidades com força total. Eu senti algo, lá no fundo, como um poder preso se preparando para sair, mas não tive tempo de descobrir se isso aconteceria.

A avalanche de terra nos alcançou, nos soterrando em meio aquele desespero.

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Minha cabeça doía como a época em que os veteranos me usavam como saco de pancadas em seus treinamentos. Eles achavam que era um absurdo uma criança treinar entre eles, além do mais, uma criança que treinava mais de uma afinidade. Quando eu treinava entre aqueles que tinham habilidade com a terra, levava tantas pedras e bolas de terra na cabeça que sempre precisava que alguém com a habilidade com a água curasse a dor que eu sentia, e eu nem conhecia Rebeca nessa época.

Lembrar de Rebeca desengatilhou algo na minha memória. Abri os olhos e tudo estava muito mais claro do que eu me lembrava. Eu estava do lado de fora. Tentei me levantar, mas senti algo criando uma resistência em meus membros. Eu estava com os braços e pernas abertos, presos ao chão por algum tipo de metal. Ao olhar para o lado, percebi várias sombras ao meu redor, o que me fez senti um calafrio de medo.

O exército do Sul estava a minha volta e eles pareciam muito felizes de eu finalmente ter acordado. Algo me dizia que só eles ficariam felizes com aquilo o que quer que seja, mas, provavelmente, seria algo que me faria escolher ainda estar soterrado dentro daquela montanha.

Eles formavam um grande círculo ao meu redor, mas ninguém se atrevia a fazer nada. Eu conhecia muito bem a hierarquia de um exército para saber o que eles estavam esperando, e não tive que esperar por muito tempo.

Em um ponto a minha esquerda, vários soldados se movimentaram para abrir passagem para alguém. Devido ao sol ofuscar minha visão, só pude realmente ver a pessoa que estava se aproximando quando ela já estava bem próxima a mim.

Não era raro mulheres também liderarem esquadrões, mas nunca tinha realmente visto uma liderando todo um exército. Pela sua atitude, era claro que era ela quem liderava aqueles homens. Ela se abaixou ao meu lado, próxima demais. Por mais que eu estivesse totalmente preso, era um erro para um líder estar tão próximo assim de um inimigo. Ou ela era muito tola ou muito corajosa, mas a proximidade serviu para que eu pudesse olhar bem em seu rosto.

Ela era bem mais velha do que eu, não podia negar que era uma mulher muito bonita, mas não foi isso o que realmente chamou a minha atenção. Eu não sabia dizer se era o formato do seu rosto, a cor dos cabelos ou dos olhos, aquele nariz fino ou a boca avermelhada, eu só tinha a certeza de que algo naquele rosto me era familiar.

Eu desviei o olhar por um instante, quando ela sorriu sarcasticamente ao perceber minha fixação, mas voltei logo o olhar, dessa vez tentando algo mais ameaçador. Não importava a circunstância, eu não poderia deixar que o inimigo percebesse o quanto eu estava abalado naquele momento.

- Gosta do que vê?

Sua pergunta foi provocativa, eu deveria responder imediatamente, mas algo na sua voz me lembrava de alguma coisa que eu não sabia o que era. Aquela melodia era algo quase encantador, como uma lembrança perdida a muito tempo.

- Quem é você? – Foi a única coisa que minha mente exposta ao sol conseguiu articular naquele momento.

Ela pareceu um pouco triste com a minha pergunta. Abaixou os olhos, como que consternada com algum fato, mas voltou novamente a me encarar, com uma nova resolução no olhar.

- É claro que você não se lembraria de mim, Léo. – Sua voz soava tão pesarosa quanto seu olhar anteriormente. – Você foi tirado dos meus braços quando era apenas um bebê. Não teria mesmo como reconhecer a sua própria mãe.

O impacto daquelas palavras foi me atingindo aos poucos, mas eu não queria acreditar. Eu sabia que meus pais haviam feito parte do povo que morava nas montanhas. Inclusive por isso, quando nos apresentaram as missões, e eu vi o problema de deslizamento nas montanhas, escolhi imediatamente esse lugar. Mas não tive tempo de nem ao menos olhar o lugar que meus pais supostamente viveram.

Meu pai sempre disse que minha mãe morreu em um deslizamento, então, ele achou que seria mais seguro encontrar um lugar para viver comigo em um lugar bem no interior dos exércitos do Oeste. Agora, eu suspeitava que aquilo fosse mentira.

Eu não queria duvidar logo de cara de tudo o que meu pai havia me contado, mas era impossível olhar o rosto daquela mulher e não sentir uma familiaridade. De qualquer forma, eu teria que entender o que estava acontecendo.

- Minha mãe morreu em um deslizamento nessas montanhas. Meu pai me levou para o interior da Cidade para que isso não acontecesse novamente.

Joguei no ar os fatos eu conhecia para ouvir a sua versão da história. Ela começou com um sorriso sem emoção.

- Seu pai fugiu com você aqui das montanhas. Essa seria a versão mais fiel da história.

Ela se levantou e começou a andar ao meu redor, o que fazia com que eu me sentisse em muita desvantagem, na minha atual situação.

- Eu sou filha do antigo líder do exército do Sul, seu avô. Morei nessas montanhas por muito tempo para tentar me infiltrar na Cidade principal, mas eu conheci o seu pai. Ele era carismático. – Ela completou com um sorriso presunçoso. –  Nós tivemos um breve relacionamento do qual você nasceu.

Não estava realmente chocado de não ter sido gerado de uma bela história de amor. Meu pai quase nunca falava da minha mãe, e sempre me dava respostas vagas e sem emoção quando eu falava sobre ela.

- Meu pai ficou sabendo que eu tinha tido um filho e mandou que eu retornasse imediatamente. Entenda que ele não poderia correr o risco de ter um herdeiro solto por aí. Se você fosse como eu, seria uma aquisição importante para os nossos exércitos. Mas seu pai descobriu, e antes que eu pudesse fazer algo, ele fugiu com você.

- O que você quer dizer com se eu fosse como você? – Eu tinha que questionar sobre a única parte que realmente me interessou naquele discurso ínfimo sobre a minha vida.

Ao invés de me responder, ela simplesmente começou a movimentar a terra ao meu redor, não o suficiente que me libertar do chão, apenas para que eu pudesse ver do que ela era capaz. Depois, ela fez uma bola de fogo gigantesca e a apagou com a água que ela mesma criou. Uma leve brisa passando por meus cabelos foi o grande final para que eu entendesse a suas palavras.

- Eu não sou o único com afinidade com todos os elementos? – Aquela revelação parecia mudar algo dentro de mim. Eu não era tão especial quanto parecia a princípio. Se houvessem outros como eu, seria como se eu fosse absolutamente normal.

- É claro que você não é o único. – Ela parecia quase irritada agora. – Só foi o único burro o bastante para mostrar para todos as suas afinidades. Esse tipo de poder geralmente aparece em algumas famílias. É muito comum alguém com certa afinidade ter filhos da mesma forma. A diferença entre nós e aqueles que só tem afinidade com um elemento é que nós escondemos as nossas habilidades. Mesmo entre os exércitos do Oeste, você não é o único, eu tenho certeza. Só que os outros são orientados a não mostrar as suas habilidades, ou serão usados como armas. O tolo do seu pai nunca soube disso, apenas que eu era dos exércitos do Sul, então nunca te disse nada. Você não é o único com esse poder, mas o único do Oeste sendo preparado para o abate.

Continua na próxima semana...

2 comentários:

  1. Eta, não tava esperando essa cena um pouco mais picante! hahahaha
    Amei essa reviravolta, quê que vai acontecer com ele por ter mostrado as suas afinidades? Muito curiosa!!
    Bjo, Jana <3

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    Respostas
    1. Nem foi tão picante assim... hahaha... não deu tempo :D
      Vamos descobrir logo, logo o que vai acontecer \o/
      Beijos!!!

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