A Batalha dos Elementos (Parte 2/7)

| 04 julho 2015 |
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Nossos três companheiros já tinham terminado de descer a montanha, e só não tinham nos chamado com algum tipo de brincadeira indecente para não chamar atenção desnecessária, eu tinha certeza.

Quando nós cinco estávamos na base da montanha, não foi tão complicado achar uma entrada que pudesse nos camuflar, ao menos um pouco. É claro que não teríamos a sorte de achar uma entrada que saísse diretamente do outro lado, mas, qualquer ajuda no momento era bem-vinda.

Andamos rapidamente até chegar ao fim do túnel. Diego se abaixou e encostou as mãos no chão. Tantas vezes eu já tinha visto fazê-lo o mesmo gesto, com aquela expressão concentrada que eu já tinha tentado imitar inúmeras vezes. Apesar de conseguir controlar a terra tão bem quanto Diego, senti-la da forma que ele fazia, ainda era um mistério que eu não havia conseguido decifrar. Ele me disse várias vezes que as vibrações que a terra emitia eram derivadas de alguma força externa. Era necessária apenas concentração para distingui-las, algo impossível para mim.

Não demorou mais do que alguns segundos para que Diego levantasse e apontasse diretamente à frente de onde ele estava. Agora eu sabia o que fazer. Juntos, e com muito cuidado para evitar um desabamento, nós começamos a remover a terra e abrir um novo túnel que terminasse exatamente onde nós desejávamos.

Faltando poucos metros para alcançar o exército inimigo, já era possível ouvir aquela balburdia característica de várias pessoas reunidas. Nós paramos apenas para finalizar o nosso plano.

- Eu e o Diego vamos terminar de escavar o túnel. – Eu disse, traçando uma rota no chão, manipulando a terra daquele local. – Quando o último pedaço de terra que nos separa deles cair, nós temos que atacar imediatamente.

Todos assentiram entendendo as minhas palavras e esperando que eu continuasse. Eu podia ver estampados nos olhos dos meus companheiros o mesmo medo que deveria estar nos meus, mas ninguém ali iria desistir.

- Ninguém deve sair do túnel, em hipótese nenhuma. Ficaremos muito expostos. Vamos todos atacar de dentro, portanto, Diego, você será responsável em manter a estabilidade do túnel. – Ele assentiu olhando para cima, já analisando suas possibilidades. – Eles tentarão nos soterrar, ou nos fazer sair. Isso não pode acontecer.

Diego se levantou e começou a tocar as paredes do túnel, já tentando encontrar o melhor ponto de apoio para a missão que ele teria que desempenhar.

- Eu, Fernando e Rebecca vamos atacar com tudo assim que a última parte de terra cair. A surpresa vai ser a nossa melhor arma. Vamos ver quantos deles podemos derrubar antes que alguém se dê conta do que realmente está acontecendo. – Me virei para Rodrigo, que seria incumbido de algo muito importante – E você vai lançar o maior jato de fogo que conseguir para o alto. Isso vai alertar os exércitos do Oeste e, se tivermos sorte, em dois dias eles estarão aqui.

Eu sabia que aquele plano era uma droga, que milhões de coisas poderiam dar errado, mas nós não tínhamos outra escolha. Erámos apenas cinco contra um exército. Mas também não poderíamos deixar aquelas pessoas a sua própria sorte. No exército, nós não aprendíamos apenas a lutar e a manipular os elementos com os quais nós tivéssemos afinidade, nós aprendíamos a lutar e a defender as nossas terras e os seus habitantes, mesmo que isso custasse as nossas vidas.

Todos nos levantamos, preparados para enfrentar o que quer que tivesse nos esperando além daquela fina faixa de terra. No último momento eu pensei em meu pai, que eu não via a algum tempo e em Sophia, minha bela Sophia, que pediu que eu não me arriscasse, que era delicada demais para ser enviada em uma missão, mesmo tendo grandes habilidades em manipular o ar.

Eu nunca me esqueceria do seu sorriso. Ela era um ano mais nova que eu. Foi mandada para o treinamento, mas nunca realmente aprendeu nada que a transformasse em um soldado. Ela era muito boa, muito meiga para ser jogada no meio de uma batalha. Sorria para todos o tempo todo. Eu parecia um bobo, também sorrindo o tempo todo quando ela estava por perto.

Treiná-la era quase impossível. Ela tinha uma habilidade única para manipular o ar, mas não conseguia fazer nada que fosse agressivo. Tudo para ela virava uma brincadeira, e eu amava isso. Depois de viver por tanto tempo só pensando em minhas obrigações, era literalmente um sopro de paz estar com ela. Eu nunca me senti tão leve e tão feliz. Quando ela foi transferida para ser treinada na área médica, apenas para usar o seu elemento para a cura, fiquei feliz por ela, mas triste por não poder mais conviver com aquele sorriso.

Quando dei por mim, estava fugindo sorrateiramente de minhas obrigações, apenas para vê-la, e nunca me decepcionava. Aquele sorriso sempre estava me esperando, para levar embora todas as minhas aflições. Aquele abraço, cada vez mais caloroso, que me fazia esquecer a importância que eu tinha e qual era o meu dever. Quando começamos a nos beijar, pareceu algo tão natural quanto era antes estar ao seu lado e, desde então, ela fazia parte da minha existência, minha doce Sophia.

Eu respirei fundo, esperando realmente poder vê-la novamente, e com as energias renovadas para que isso se concretizasse. Eu não gostaria de ser o responsável por aquele sorriso deixar os seus lábios e eu queria, mais do que tudo no mundo, voltar e vê-lo novamente.

Esperei que Diego desse o sinal de positivo, confirmando que o túnel estava seguro. Eu sabia que aquela não era uma tarefa fácil, principalmente para dois dias inteiros, porém, confiava nos meus companheiros, confiava na força que eles tinham. Cada um ali comigo também tinha uma razão para voltar para casa. Quando empurrei a terra que faltava, a última parte que nos separava do mundo exterior, sabia que estava fazendo a coisa certa e que estava ao lado de uma equipe em que eu podia confiar.

Todos sabiam quais eram as minhas ordens, todos haviam entendido o plano, porém, era quase impossível de acreditar que tudo iria por água abaixo sem sequer ter começado.

Infelizmente, nós sempre aprendemos que deveríamos lutar com nossos inimigos sem misericórdia. Prisioneiros são apenas para o último caso. Principalmente se tratando dos exércitos do Sul, o ideal era que aqueles mercenários fossem todos mortos. Eu detestava pensar dessa forma, mas já tinha visto pessoalmente toda a destruição que eles podiam causar, todas as famílias que eles podiam destruir e isso me dava forças para fazer o que era certo, porém, nada havia saído como eu tinha imaginado.

Quando eu fiz a última parede de pedras e terra que nos separava do exército do Sul desabar, eles realmente ficaram surpresos, assim como eu imaginava. Essa seria a oportunidade perfeita, se só os soldados estivessem ali.

Muitas pessoas que pertenciam ao setor controlado pelos exércitos do Oeste moravam nas montanhas. Nós sempre os ajudávamos no que era necessário, e, em troca, eles também nos ajudavam com suas plantações e animais, além de nos avisar quando avistavam algo estranho.

Eu pensaria que essas pessoas se esconderiam rapidamente, seja na montanha ou na floresta do redor. Eles deveriam conhecer aquele lugar como ninguém. Não era para o exército do Sul ter em seu poder mais do que alguns poucos desavisados, por mais que eles também merecessem ser salvos. Mas aquilo era algo que eu jamais imaginaria.

Nós só não fomos imediatamente mortos, exatamente pela surpresa que foi aparecer de dentro da montanha, porque atacá-los havia virado algo completamente fora de questão. Centenas de moradores das montanhas estavam amarrados, no centro do acampamento. Era possível ver um círculo formado de pessoas com alguma afinidade em volta. Aquilo era a coisa mais desumana que eu já tinha visto.

Eles iriam matá-los, com certeza, mas antes, iriam fazê-los implorar para que aquilo acabasse. Nossa chegada provavelmente parou por um momento o que estava acontecendo, mas era possível ver muitas marcas de queimaduras, machucados totalmente sujos por terra e pessoas desmaiadas, provavelmente por terem sidos impedidas de respirar. Aquela cena era repulsiva.

Eu não conseguia desviar o olhar, ou pensar em outra coisa, a não ser o quanto aquilo era horrendo, porém, o exército não esperaria pacientemente que eu recobrasse o meu equilíbrio. Por sorte, Rodrigo não esqueceu de sua parte do plano. Por mais que nós não pudéssemos mais atacar o exército, não sem ferir os moradores das montanhas, Rodrigo ainda podia emitir o sinal com fogo. Aquilo foi magnífico, eu tenho que confessar. Ele realmente se esforçou em enviar a chama o mais alto possível. Seria impossível que os exércitos do Oeste não vissem e não mandassem ninguém para averiguar, principalmente sabendo de onde vinha o sinal e onde eu deveria estar.

Apesar do fogo não ter sido lançado diretamente contra eles, uma chama daquele tamanho assustaria qualquer um. Muitos soldados começaram a correr, outros se jogaram no chão tentando se proteger, mas a nossa vantagem, se é que podemos chamar aqueles poucos segundo de vantagem, não durou muito. Logo eles perceberam que não atacaríamos os moradores e que a chama não era para atingi-los. O contra-ataque começou imediatamente.

A principal meta do meu plano era atacar o maior número possível de soldados, antes que eles realmente entendessem o que estava acontecendo e pudessem reagir. Agora, estávamos apenas nos defendendo, da forma que fosse possível. Dessa maneira, nunca teríamos uma baixa realmente expressiva dos exércitos do Sul e todo aquele plano idiota terá sido em vão. Além disso, não aguentaríamos dois dias naquela situação, não com tantos combatentes ainda a postos.

Era muito difícil pensar no que fazer tendo que defender a mim e aos meus companheiros. Diego estava ocupado, segurando literalmente toda a montanha para que ela não desabasse sobre as nossas cabeças, Rodrigo estava muito mais fraco do que o normal, depois de ter usado tanta energia para enviar o nosso sinal. Só restavam realmente Fernando, Rebecca e eu.

Eu os atacava como era possível, mas não podia redirecionar os meus ataques a uma distância tão grande, algum inocente poderia ser atingido. Nós precisávamos sair daquele lugar, mas Diego estava ocupado, não poderia abrir outro túnel, o lugar pelo o qual nós viemos foi tampado, por precaução, não queríamos um ataque surpresa pelas costas.

- Nós precisamos sair daqui. Vamos morrer em questão de minutos se continuarmos dessa forma. – Rebeca não parecia assustada dessa vez, a determinação brilhava em seu olhar, mas ela era esperta o suficiente para saber que ficar ali seria suicídio.

- Você tem que abrir um novo túnel, Léo. – Disse Fernando, ao mesmo tempo que levava para longe com suas correntes de ar aqueles que chegavam muito perto da entrada. – Nós os seguramos aqui, você tem que abrir outro túnel.

Ele estava certo, eu era o único que podia fazer aquilo, mas não queria deixar os três sozinhos cuidando da entrada.

- Anda logo, Léo, nós não temos tempo.

Rebeca não demorou mais do que poucos segundo me encarando ao dizer aquelas palavras, mas aquilo foi mais do que o suficiente para me fazer acordar do meu estupor.

Eu estava atacando basicamente com fogo, mas era algo completamente natural mudar o meu elemento. Sempre foi algo instintivo, porém, eu percebi o clima mudar ao meu redor ao começar a abrir um novo túnel.

Ouvi uma perturbação que antes não estava ali. Sussurros como “É ele” ou “Ele está aqui” chegaram aos meus ouvidos, não que eu tivesse parado para prestar atenção. Mesmo os ataques, antes implacáveis, agora haviam diminuído. Não importava o que estivesse acontecendo, aquela era a nossa chance de escapar.

Todos correram em direção ao túnel recém-aberto. Eu logo me preocupei em fechar a nossa entrada, antes de continuar, pois Diego ainda estava focado em manter a nossa segurança.

Andamos vários metros, até começar a rir de alívio. Era incrível que eles tivessem nos deixado fugir com tamanha facilidade, era incrível que ainda estivéssemos vivos. Por mais que eles tivessem pessoas com afinidade com a terra, eu duvidava que eles tivessem a habilidade de Diego. Eles poderiam nos procurar as cegas, mas ele sempre saberia quando o inimigo estivesse se aproximando. Poderíamos ficar ali os dois dias e torcer para que eles perdessem tempo atrás de nós e poupassem os moradores das montanhas. Se nós ainda servíssemos de distração, talvez todo aquele plano idiota não fosse em vão.


Continua na próxima semana...

4 comentários:

  1. Olá como eu já previa ainda falta muita coisa pra acontecer , que pena esperar ate na outra semana agora fico mais curiosa pra saber mais , está muito bom.
    Obrigada.

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    1. Fico muito feliz por você estar acompanhando, Marília :D
      Obrigada pelo seu comentário!

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  2. Oi, Jana!
    Ah, agora sim teve bastante ação, amei!! Gostei de saber mais um pouco da vida pessoal do protagonista também, e tô louca pra saber o que vai acontecer e se eles vão salvar os moradores da montanha.
    Abraços!!

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    1. Que bom que você gostou <3
      Ainda vai ter muitas informações sobre a vida do protagonista e outras cenas de ação :D
      Beijos!!!

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