Nunca me relacionei intimamente com funcionário algum, mas
aquela era uma situação única, que me levaria em direção ao meu mais novo
objetivo.
Os primeiros dias de Douglas como meu motorista foram
irritantes, com ele achando que podia tagarelar o tempo todo suas histórias de
família, mas eu não podia interromper aquele momento. Eu tinha certeza que ele
achava que nós estávamos recriando os laços que tivemos um dia.
Em seu primeiro dia de folga, ele fez questão de me convidar
para um almoço em sua casa.
- É claro que eu não moro em um lugar chique como você. –
Ele começou, tentando fazer pouco caso, porém, como todo fracassado que conhece
bem os seus fracassos, sempre quer amenizar aquilo que, no fundo, o corrói por
dentro. – Mas eu adoraria que você passasse um tempo com a gente, relembrando
os velhos tempos. Paula também está ansiosa para isso.
Aquelas últimas palavras eram tudo o que eu precisava ouvir.
Quase sorri de satisfação com o seu comentário, deveras inocente. Eu a
imaginava ouvindo do marido que havia encontrado o seu amor da adolescência.
Seu coração palpitando de antecipação por revê-lo. Um homem muito mais bem
sucedido do que aquele com quem ela dividia a cama todos os dias. Alguém que
teria lhe dado um futuro muito melhor do que a vidinha morna que ela levava
agora.
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Parei na frente de uma casa que não combinava nada com o
carro que eu havia escolhido para a ocasião. Ele começou a se destoar a muitas
ruas atrás, e eu com certeza também me destacaria muito naquele lugar.
Douglas não esperou nem o toque da campainha para abrir a
porta. Talvez aquela fosse a única vantagem de uma casa pequena, ouvir tudo o
que acontece do lado de fora.
Ele me abraçou como se ainda fossemos velhos amigos, não
como se ele dependesse de mim e do trabalho que eu lhe oferecia para
sobreviver. Mas eu sabia que aquele comportamento era minha culpa. Eu estava em
sua casa para um almoço de domingo. É claro que ele se sentiria nesse direito.
Gostaria de saber o que ele acharia da minha amizade se conhecesse minhas
verdadeiras intenções. Já passei por coisas piores para alcançar meus
objetivos. Aquilo seria fácil.
Até forcei um sorriso para que ele pensasse que era
realmente gratificante entrar naquele lugar. A sala era minúscula, mesmo se eu
comparasse apenas com o meu banheiro. Havia um garotinho sentado no sofá. Ele
me encarou sem demonstrar nenhuma reação. Eu não tinha contato com crianças,
mas sabia que elas tinham uma vantagem perante os adultos. Elas não fingiam
nada, você tinha que realmente agradá-las para que elas demonstrassem gostar de
você. Não que esse fosse meu interesse. Nossos comprimentos foram rápidos, o
que não deve ter causado impressão alguma no garoto. Mas eu não me importava.
Meu verdadeiro prêmio estava chegando.
Ela saiu da cozinha com um avental preso ao corpo. Eu estava
acostumado a me relacionar com mulheres banhadas em joias, não com adornos de
cozinha e o meu primeiro pensamento foi que ela merecia o mesmo tratamento.
O abraço que ela me ofereceu foi amistoso, mas muito menos
entusiasmado que o de seu marido. Eu conhecia bem as pessoas. Para jogar certos
jogos, isso era muito necessário. Ela estava constrangida pela minha presença,
por mais que disfarçasse muito bem.
Fiquei muito satisfeito em ver que por baixo do avental, que
ela tirou na hora de sentar a mesa, havia uma saia, que apesar de não ser tão
curta, realçava os seus quadris, me fazendo imaginar como seria tirá-la. E o
seu decote era tão generoso quanto eu me lembrava.
Nós almoçamos quase como velhos amigos fariam, pelo menos eu
tentei me comportar como tal. Aquela era uma situação na qual eu era
especialista. Lembrando os tempos de colégio, por mais que ninguém entrasse em
um certo assunto em particular, nós levamos aquele almoço regado a uma comida
sem graça e uma criança tentando desviar atenção para os seus próprios
interesses.
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- Você foi a casa deles com a intenção de roubar a mulher
daquele que um dia foi o seu melhor amigo? – Carlos mantinha sua voz tranquila,
mas eu podia sentir uma certa repressão no ar. – Você não sentiu nem um pouco
de culpa? Por tentar destruir uma família?
- Eu nunca quis destruir família alguma. Isso nem passou
pela minha cabeça. Tudo o que eu queria era terminar o que eu tinha começado na
noite da nossa formatura. Depois disso, eu nunca mais a veria. E talvez eu até
tivesse demitido Douglas para riscar de uma vez por todas essa parte da minha
vida.
Era um desejo, uma necessidade quase adolescente de terminar
com o que ela tinha me negado aquela noite. Eu sabia o quanto isso era
inconsequente, que eu poderia ter uma mulher perfeita, nesse momento se quisesse,
sem o mínimo esforço. Mas, ela era um assunto não terminado, e um desafio. Duas
coisas que juntas só podiam resultar em uma atração incontrolável.
- Então, você achava que ela ainda te amava? Que ela não
amava o marido, portanto aceitaria traí-lo por sua causa?
- Eu não sei se ela me amava. Eu não tenho certeza nem se
ela amava aquele marido fracassado. Só existe um homem nesse mundo que eu tenho
certeza que tinha todo o seu amor, e toda a sua atenção.
Eu era um bom observador. Perceber isso foi a minha primeira
cartada para o grande final.
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Ela podia estar nervosa, não olhava muito em meus olhos, mas
havia algo naquela mesa que tinha realmente a sua atenção. Quando Paula olhava
para o filho era como se um brilho fosse colocado no lugar onde estava a sua
cautela.
O almoço terminou e sentamos na sala para continuar a grande
conversa. Já estava começando a me irritar por ainda não ter imaginado uma
forma de ficar a sós com ela. Tomas estava em seu colo, sendo acariciado como
um cachorrinho pequeno. Mesmo Douglas recebia dela um olhar mais carinhoso
quando fazia algum tipo de brincadeira com o filho. Eu sabia que era exatamente
ali que estaria o meu trunfo se quisesse alcançar a vitoria.
Perguntei sobre a sua escola. Me mostrei interessado em sua
fala infantil sem fundamento. Pude perceber que ela me olhava já de outra
forma. Alguns pais agiam como se uma pessoa não gostasse de seus filhos, eles
também não deviam gostar, mas, se uma pessoa os amasse...
Acabamos os quatro no minúsculo quintal atrás da casa, onde
uma máquina de lavar dividia o espaço com roupas penduradas e uma trave
improvisada. Nós chutávamos para que Tomas defendesse as bolas. Paula logo
entrou, dizendo que iria limpar a louça do almoço e eu esperei um tempo que
julguei necessário para parecer acima de qualquer suspeita. Dizendo que
precisava ir ao banheiro, fui direto para a cozinha.
Ela estava encostada na pia, olhando para o seu interior,
como que imaginando como aquela louça havia surgido, sem indício algum de que
iria começar o seu trabalho. Sorrateiramente eu toquei em seu ombro e ela se
virou assustada.
- Alan... – Ela disse sem fôlego, como se tivesse corrido
uma maratona. – Você me assustou.
- Me desculpe. – Eu respondi, sem dar um passo sequer para
trás. Nós estávamos próximos, e tudo o que eu queria era terminar com aquela
distância, terminar com tudo aquilo que, mesmo sem saber, estava a anos me
corroendo.
Eu toquei seu rosto, e ela pareceu parar de respirar, o que
me fez sorrir por dentro. Não seria tão complicado quanto eu imaginava.
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- Era óbvio que ela queria aquilo tanto quanto eu. Mas as
pessoas resistem aos seus desejos por razões morais absurdas.
- O que você iria fazer? – Perguntou Carlos, tentando tirar
a repreensão de sua voz, eu percebi. – Transar com ela na cozinha de sua casa
com o filho e o marido no quintal?
Não pude deixar de rir um pouco dessa vez. Eu tinha acabado
de falar de moralidade. Não que eu me importasse com isso, mas não iria querer
ser interrompido por uma criança chorando ou um marido traído.
- É claro que não. Mas eu percebi que tudo seria fácil. E
realmente foi.
quero mais <3
ResponderExcluirNo próximo sábado :D
ExcluirComo assim terminou desse jeito? *_* Quero a próxima parte logo, quero saber se a Paula vai trair o marido ou não e no que isso vai dar.
ResponderExcluirAmei!! Um abraço, Jana!
Que bom que você está gostando e obrigada por compartilhar isso comigo <3 <3 <3
ExcluirNo próximo sábado eu vou publicar a última parte e todos os mistérios serão solucionados :D
Beijos!!!
muito legal.
ResponderExcluirObrigada :D
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