Literalmente

| 25 junho 2018 |



Autora: Lucy Keating
Editora: Globo Alt
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E se sua vida não te pertencesse? E se ela literalmente não fosse escrita por você? Para alguém como Annabelle, com a vida toda organizada, dias e horários estipulados para absolutamente tudo e notas invejáveis na escola, não estar no controle de seu destino seria algo absurdo, inadmissível, até que o garoto perfeito surge em sua vida. Mas Will era perfeito até demais, todas as suas atitudes, escolhas e ações eram como se ele fosse feito sob medida para ela, algo completamente impossível de se acontecer.

Por outro lado, na vida de Annabelle existia Elliot, o melhor amigo de seu irmão, Sam. Eles se conheceram a vida inteira, por isso a garota conhecia cada um de seus defeitos, suas metas de vida (ou a falta delas), suas ambições e, principalmente, o quanto ele podia ser cafajeste com as mulheres. Will seria a escolha óbvia, ela seria claramente atraída por alguém tão perfeito. No final de um livro, ele seria o seu final feliz, mas que culpa pode ter uma personagem quando seu coração escolhe bater mais forte pelo amigo nada perfeito? Ou ela pode aceitar o destino de sua escritora ou se revoltar e lutar por aquele que ela realmente ama.

Quando eu digo “se revoltar com a autora” estou dizendo literalmente. Aqui, Lucy Keating, não assina apenas a obra que ela escreve, mas interage com sua personagem, deixando bem claro que ela é a responsável pela sua história e por todos os acontecimentos de sua vida. Seja pelo divórcio de seus pais, a venda da casa que ela cresceu e tanto ama, um cachorro encrenqueiro, ou um garoto perfeito que aparece em sua vida. Tudo foi milimetricamente calculado para um livro encantador, cheio de altos e baixos, em que no final a protagonista superaria todas as dificuldades e terminaria com o seu príncipe.

Isso até a protagonista se revoltar com tudo aquilo e lutar pela vida que realmente escolheu, seja com escolhas certas ou erradas, seja para quebrar a cara ou não no futuro. Essa foi uma sacada realmente genial da autora para criar uma obra tão clichê quanto original. Uma autora, que por muito tempo escreveu histórias dramáticas e com finais tristes, decide escrever romances com finais felizes, com protagonistas perfeitos um para o outro. Em quantos livros já não encontramos essa premissa? Mas, uma personagem revoltada com as escolhas da autora, querendo ir por caminhos completamente opostos aos escolhidos por aquela que queria escrever cada passo de sua vida, trouxe para a história uma narrativa realmente singular.

Encontramos tantas cenas clichês nessa obra, casal correndo na chuva, tropeço da mocinha para ser segurada pelo seu amado, uma blusa enganchada em ambos os protagonistas, rostos próximos, mas a grande sacada são todas essas cenas serem questionadas pelos personagens, o quanto tudo aquilo era tão previsível. Mesmo os seus sentimentos nesses momentos, tão à flor da pele, tanta paixão a todo momento, são nublados pela questão se aquilo é realmente um sentimento real, ou se criado pela escritora que estava regendo suas vidas.

Elliot, um garoto que não deveria ter tanto destaque na narrativa, alguém que talvez fosse apenas o terceiro elo do triângulo amoroso, criado para dar mais dramaticidade ao romance, acaba sendo um personagem muito mais complexo de difícil de se lidar do que a autora teria imaginado. Os sentimentos de Annabelle por ele também vão por um caminho muito diferente do que a autora gostaria, o que cria diversas cenas fantásticas durante toda a obra.

“Literalmente” é um livro de romance incrível. Se é possível ser original sendo muito clichê, a resposta está nessa obra. Assim como a personagem, ficamos perdidos entre o que está sendo escrito e o que é real. Se existe algo real, ou se tudo está sendo escrito. No final do livro, só podemos ter certeza de que Annabelle é muito sortuda em viver um romance incrível, seja com um garoto escrito exatamente para ela, ou com um não tão perfeito assim, mas por essa razão, perfeito à sua maneira.

3 comentários:

  1. Olá Jana! Nossa que trama sensacional, preciso desse livro pra ontem, essa sua resenha foi a primeira que li dele e me deixou mega curiosa em conferi isso tudo.
    Bjs

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  2. Que ideia genial!
    Onde a personagem segue um caminho totalmente diferente da versão perfeita criada pela autora.
    Eu achei o livro diferente e original.
    Espero ainda poder ler. :)

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  3. Jana!
    gosto de romances clichês e achei inédito o enredo, que deixa o leitor na dúvida se tudo é imaginário ou real na vida da protagonista.
    “Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda. “ (Clarice Lispector)
    cheirinhos
    Rudy

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