A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 10)

| 30 janeiro 2016 |

Estávamos sentados no breu da floresta. Eu havia ficado em pé, na estrada, durante vários minutos, até me cansar de esperar. Eles não sabiam quando alguém passaria, e se estaria desprovido de guardas o suficiente para um ataque, então voltei para junto dos outros, enquanto um dos homens ficaria de guarda, e me chamaria caso necessário.

Para passar o tempo, os homens revezavam entre si contando histórias. Parecia que nenhum deles havia crescido com alguém que lhe contasse algo assim antes de dormir, então todos estavam encantados com algumas fábulas que eu já tinha ouvido dezenas de vezes.

Todos ouviam atentamente a história do homem da vez, Rodrigo. Eu não estava prestando muita atenção. Era uma história ridícula de uma camponesa que havia fugido do castelo que ela trabalhava. Deixei minha mente vagar por um tempo, sem ouvir os rumos que a história tomaria, quando um trecho chamou minha atenção.

- Ela queria se vingar do soberano que a havia tratado como uma escrava, que achava que podia usá-la da forma que ele quisesse. Ela sabia que precisava de poder, um que nem um Rei teria como enfrentar. Foi quando ela encontrou uma amaldiçoada.

Todos prenderam a respiração. Minha atenção agora estava totalmente voltada para a sua história. Eu não perderia nenhuma palavra.

- A amaldiçoada lhe ofereceu esse poder, mas ela teria que abrir mão daquilo que fosse mais importante em sua vida.

Eu quase pude sentir meu coração perder um compasso. Eu não tinha mais pensado no que aquela mulher havia me dito, mas aquela situação era tão semelhante que eu não pude evitar de lembrar. Será que era possível? Como uma história tão parecida poderia ter surgido? Podia ser porque tivesse um fundo de verdade.

Talvez, para conseguir o poder da maldição, ou para se livrar dele, o preço fosse o mesmo.

- Ela aceitou a oferta e tomou o poder para si. Agora ela podia destruir todo um exército com um simples movimento. A camponesa mal podia esperar para finalmente ter a sua vingança, mas, o que ela não havia percebido, é que aquilo era a coisa mais importante da sua vida e essa foi a sua ruína. Não conseguindo realizar a sua vingança, ela foi capturada pelo seu antigo soberano e queimada na praça principal do Reino.

Ele terminou elevando a voz, um efeito para aumentar a dramaticidade. Olhou para todos, ansioso por uma reação.

- A história termina assim? – Perguntou um dos homens. – Sem nem um derramamento sem sangue, sem que a amaldiçoada destruísse metade do Reino?

Todos riram, achando graça da falta de emoção. Eu não conseguia nem rir. Olhei para minhas mãos, relembrando algumas palavras: “Agora ela podia destruir todo um exército com um simples movimento”. Será que isso seria possível? Eu era tão perigosa a ponto de destruir todo um exército? Por mais que não quisesse acreditar nisso, também não conseguia evitar de lembrar da quantidade de árvores que eu destruí, em meio a minha raiva.

- Está tudo bem? – Perguntou Alex ao meu lado, baixo para que os outros não ouvissem.

Um barulho perto da estrada fez com que eu pudesse escapar daquela resposta. Aquele era o sinal para quando eu tivesse que voltar. Alguma vítima estava a caminho e eu tinha um trabalho a fazer.


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Nós chegamos tarde aquele dia. Alex tinha feito o jantar, dessa vez com a minha ajuda, ou com o pouco que eu tinha capacidade de ajudar. Depois ele se sentou em uma poltrona e eu fiquei no sofá, para nós conversarmos. Ele parecia estar muito cansado, tanto que dormiu sem nem perceber.

Pela primeira vez eu podia observá-lo sem nenhum impedimento. Alex era a única coisa realmente boa que tinha acontecido na minha vida depois que aquela mulher cruzou o meu caminho. Sua beleza ainda era impactante, mas, conhecer o homem atrás daquela capa, havia mudado meu modo de ver o mundo.

Durante toda a minha vida eu não me importei com a índole de ninguém, só com os meus desejos e as minhas necessidades. Conhecer alguém bom como Alex, só me faz pensar que eu nunca conheci alguém assim. Nem meus pais, Reis de todo esse lugar, conseguiriam ser tão benevolentes como esse homem dormindo calmamente. O sono dos justos, que só alguém que sabe que faz o que é certo poderia ter.

Algo que eu conhecia perfeitamente começou a aflorar dentro de mim. A necessidade de possuir algo que ainda não me pertencia. Antes, algo assim era facilmente resolvido, nada que algumas ordens não me dessem exatamente o que eu queira. Mas dessa vez não seria dessa forma.

Sempre imaginei como seria ser amada por um homem, um belo Príncipe que faria de mim sua Rainha. Toda a vida de luxo e riquezas que eu teria, com ainda mais liberdade, sem ser sempre vigiada por meus pais.

Agora, meu Príncipe havia se transformado em um ladrão que ajuda os mais necessitados, mas isso não importava. Eu o queria e, depois de tudo o que aconteceu, talvez eu ainda merecesse essa pequena recompensa, por tudo o que eu sofri.

Levantei de onde estava, sentindo meu corpo tremer de antecipação. Sentei no braço da sua poltrona, analisando seu rosto bem de perto. Seu cabelo balançava suavemente, assim como seu peito, em uma respiração calma e suave.

Sem tirar os olhos de seu rosto, levantei uma das mãos, para acariciá-lo. Minha mão tremia de tamanho nervosismo e eu mal podia acreditar que me sentia assim. Alex abriu os olhos e pareceu não compreender por um momento o que estava acontecendo, mas eu não perderia minha coragem.

Ele começou a sorrir sutilmente, até que minha mão finalmente tocou seu rosto. Como eu desejei fazer aquilo, mas não era o suficiente. Eu o teria beijado, como nenhuma donzela deve fazer com um homem, os dois sozinhos, em um lugar deserto, nada teria me parado, se um grito não tivesse perfurado a noite, me fazendo pular da poltrona e quase tampar os ouvidos para conter aquele som repleto de horror.

Foi tão alto e repentino que eu demorei alguns segundos para entender o que tinha acontecido. Olhei para todos os lados, procurando a causa daquele grito de pavor, quando ele estava bem a minha frente.

Alex não tinha se movimentado nem um milímetro. O choque estampava seu rosto. A sua mão cobria o lugar onde a minha tinha tocado. Uma pedra de gelo parecia ter tomado o lugar do meu coração, mas eu ainda tinha um fiapo de esperança que aquilo não era o que eu estava pensando.

Minha esperança se desvaneceu completamente, quando ele retirou a mão e uma trilha de sangue escorreu livremente.

5 comentários:

  1. Ai Jana!
    Tão lindo quando se tem inspiração para poder escrever boas histórias.
    Parabéns!
    “A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.” (Platão)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  2. Ai Jana!
    Tão lindo quando se tem inspiração para poder escrever boas histórias.
    Parabéns!
    “A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.” (Platão)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  3. Jana, estou amando acompanhar essa história, A Princesa dos Ventos. Estou gostando muito do rumo que ela está indo e estou cada vez mais curiosa para saber todo seu desfecho.
    O final da princesa será este mesmo contado por este homem? \0/
    Bjs, Jana!

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    1. Fico feliz que você esteja gostando :D
      Será? hehehe
      Teremos que aguardar para conferir.
      Beijos!!!

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