Estávamos sentados no breu da floresta. Eu havia ficado em
pé, na estrada, durante vários minutos, até me cansar de esperar. Eles não
sabiam quando alguém passaria, e se estaria desprovido de guardas o suficiente
para um ataque, então voltei para junto dos outros, enquanto um dos homens
ficaria de guarda, e me chamaria caso necessário.
Para passar o tempo, os homens revezavam entre si contando
histórias. Parecia que nenhum deles havia crescido com alguém que lhe contasse
algo assim antes de dormir, então todos estavam encantados com algumas fábulas
que eu já tinha ouvido dezenas de vezes.
Todos ouviam atentamente a história do homem da vez,
Rodrigo. Eu não estava prestando muita atenção. Era uma história ridícula de
uma camponesa que havia fugido do castelo que ela trabalhava. Deixei minha
mente vagar por um tempo, sem ouvir os rumos que a história tomaria, quando um
trecho chamou minha atenção.
- Ela queria se vingar do soberano que a havia tratado como
uma escrava, que achava que podia usá-la da forma que ele quisesse. Ela sabia
que precisava de poder, um que nem um Rei teria como enfrentar. Foi quando ela
encontrou uma amaldiçoada.
Todos prenderam a respiração. Minha atenção agora estava
totalmente voltada para a sua história. Eu não perderia nenhuma palavra.
- A amaldiçoada lhe ofereceu esse poder, mas ela teria que
abrir mão daquilo que fosse mais importante em sua vida.
Eu quase pude sentir meu coração perder um compasso. Eu não
tinha mais pensado no que aquela mulher havia me dito, mas aquela situação era
tão semelhante que eu não pude evitar de lembrar. Será que era possível? Como
uma história tão parecida poderia ter surgido? Podia ser porque tivesse um
fundo de verdade.
Talvez, para conseguir o poder da maldição, ou para se
livrar dele, o preço fosse o mesmo.
- Ela aceitou a oferta e tomou o poder para si. Agora ela
podia destruir todo um exército com um simples movimento. A camponesa mal podia
esperar para finalmente ter a sua vingança, mas, o que ela não havia percebido,
é que aquilo era a coisa mais importante da sua vida e essa foi a sua ruína.
Não conseguindo realizar a sua vingança, ela foi capturada pelo seu antigo
soberano e queimada na praça principal do Reino.
Ele terminou elevando a voz, um efeito para aumentar a
dramaticidade. Olhou para todos, ansioso por uma reação.
- A história termina assim? – Perguntou um dos homens. – Sem
nem um derramamento sem sangue, sem que a amaldiçoada destruísse metade do
Reino?
Todos riram, achando graça da falta de emoção. Eu não
conseguia nem rir. Olhei para minhas mãos, relembrando algumas palavras: “Agora
ela podia destruir todo um exército com um simples movimento”. Será que isso
seria possível? Eu era tão perigosa a ponto de destruir todo um exército? Por
mais que não quisesse acreditar nisso, também não conseguia evitar de lembrar
da quantidade de árvores que eu destruí, em meio a minha raiva.
- Está tudo bem? – Perguntou Alex ao meu lado, baixo para
que os outros não ouvissem.
Um barulho perto da estrada fez com que eu pudesse escapar
daquela resposta. Aquele era o sinal para quando eu tivesse que voltar. Alguma
vítima estava a caminho e eu tinha um trabalho a fazer.
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Nós chegamos tarde aquele dia. Alex tinha feito o jantar,
dessa vez com a minha ajuda, ou com o pouco que eu tinha capacidade de ajudar.
Depois ele se sentou em uma poltrona e eu fiquei no sofá, para nós conversarmos.
Ele parecia estar muito cansado, tanto que dormiu sem nem perceber.
Pela primeira vez eu podia observá-lo sem nenhum
impedimento. Alex era a única coisa realmente boa que tinha acontecido na minha
vida depois que aquela mulher cruzou o meu caminho. Sua beleza ainda era
impactante, mas, conhecer o homem atrás daquela capa, havia mudado meu modo de
ver o mundo.
Durante toda a minha vida eu não me importei com a índole de
ninguém, só com os meus desejos e as minhas necessidades. Conhecer alguém bom
como Alex, só me faz pensar que eu nunca conheci alguém assim. Nem meus pais,
Reis de todo esse lugar, conseguiriam ser tão benevolentes como esse homem
dormindo calmamente. O sono dos justos, que só alguém que sabe que faz o que é
certo poderia ter.
Algo que eu conhecia perfeitamente começou a aflorar dentro
de mim. A necessidade de possuir algo que ainda não me pertencia. Antes, algo
assim era facilmente resolvido, nada que algumas ordens não me dessem exatamente
o que eu queira. Mas dessa vez não seria dessa forma.
Sempre imaginei como seria ser amada por um homem, um belo
Príncipe que faria de mim sua Rainha. Toda a vida de luxo e riquezas que eu
teria, com ainda mais liberdade, sem ser sempre vigiada por meus pais.
Agora, meu Príncipe havia se transformado em um ladrão que
ajuda os mais necessitados, mas isso não importava. Eu o queria e, depois de
tudo o que aconteceu, talvez eu ainda merecesse essa pequena recompensa, por
tudo o que eu sofri.
Levantei de onde estava, sentindo meu corpo tremer de
antecipação. Sentei no braço da sua poltrona, analisando seu rosto bem de
perto. Seu cabelo balançava suavemente, assim como seu peito, em uma respiração
calma e suave.
Sem tirar os olhos de seu rosto, levantei uma das mãos, para
acariciá-lo. Minha mão tremia de tamanho nervosismo e eu mal podia acreditar
que me sentia assim. Alex abriu os olhos e pareceu não compreender por um
momento o que estava acontecendo, mas eu não perderia minha coragem.
Ele começou a sorrir sutilmente, até que minha mão
finalmente tocou seu rosto. Como eu desejei fazer aquilo, mas não era o
suficiente. Eu o teria beijado, como nenhuma donzela deve fazer com um homem,
os dois sozinhos, em um lugar deserto, nada teria me parado, se um grito não
tivesse perfurado a noite, me fazendo pular da poltrona e quase tampar os
ouvidos para conter aquele som repleto de horror.
Foi tão alto e repentino que eu demorei alguns segundos para
entender o que tinha acontecido. Olhei para todos os lados, procurando a causa
daquele grito de pavor, quando ele estava bem a minha frente.
Alex não tinha se movimentado nem um milímetro. O choque
estampava seu rosto. A sua mão cobria o lugar onde a minha tinha tocado. Uma
pedra de gelo parecia ter tomado o lugar do meu coração, mas eu ainda tinha um
fiapo de esperança que aquilo não era o que eu estava pensando.
Minha esperança se desvaneceu completamente, quando ele
retirou a mão e uma trilha de sangue escorreu livremente.
Ai Jana!
ResponderExcluirTão lindo quando se tem inspiração para poder escrever boas histórias.
Parabéns!
“A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.” (Platão)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Muito obrigada, Rudy :D
ExcluirBeijos!!!
Ai Jana!
ResponderExcluirTão lindo quando se tem inspiração para poder escrever boas histórias.
Parabéns!
“A parte que ignoramos é muito maior que tudo quanto sabemos.” (Platão)
cheirinhos
Rudy
http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
Jana, estou amando acompanhar essa história, A Princesa dos Ventos. Estou gostando muito do rumo que ela está indo e estou cada vez mais curiosa para saber todo seu desfecho.
ResponderExcluirO final da princesa será este mesmo contado por este homem? \0/
Bjs, Jana!
Fico feliz que você esteja gostando :D
ExcluirSerá? hehehe
Teremos que aguardar para conferir.
Beijos!!!