A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 8)

| 17 outubro 2015 |
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Ele não largou minha mão durante um longo tempo, enquanto corríamos em meio a floresta. Por mais que aquele contato fosse mais íntimo do que eu gostaria, eu não ousaria soltá-lo. Me perder na floresta não estava entre os meus desejos e ele parecia saber o que estava fazendo.

De tempos em tempos, ele olhava em minha direção e abria um sorriso, coisa que eu não sabia que ele fosse capaz de fazer. Eu não sabia como reagir. Eles eram ladrões, roubavam os nobres que passavam por aquela estrada perdida. E agora eu era cumplice daquele crime, e provavelmente seria de muitos outros. Como eu poderia levar aquilo a diante? Roubar um nobre era o mesmo que roubar do próprio Rei, ou seja, roubar de mim mesma...

Talvez aquilo não fosse tão grave assim, afinal de contas, tudo aquilo era meu por direito.

Nós paramos depois de um longo tempo, e aquele homem que havia me encontrado e me oferecido comida em troca de sua ajuda, parecia imensamente satisfeito. Ele se encostou em uma árvore e não demorou mais do que poucos segundos para que seus outros companheiros se juntassem a nós.

A forma como eles comemoravam era interessante. Pareciam felizes como se o próprio Rei os tivesse agraciado com terras ou ouro. Eles se abraçavam e batiam nas costas uns dos outros, já tentando saber o valor que haviam conseguido na empreitada daquele dia.

- Grande aquisição, Alex. – Disse um homem, batendo nas costas daquele que meu deu um pão em troca de parar homens nojentos à beira da estrada, por mais que não tenha sido essas as palavras que ele tenha usado. Ao menos, agora eu sabia o seu nome.

Alex me olhava de forma mais amistosa. Se antes ele estava cauteloso, parecia que agora eu fazia parte da sua pequena equipe de ladrões e era realmente bem-vinda. Se aquele tinha sido um teste, eu tinha sido aprovada com louvor.

Nós esperamos por um tempo, antes de começarmos novamente a caminhar. Quando saímos da casa de Alex aquela manhã, fomos pelo mesmo caminho, e seus companheiros aos poucos começaram a surgir, até que estávamos nessa grande equipe, em que eu era a única mulher, portanto, a responsável por atrair as nossas vítimas.

Da mesma forma como aconteceu mais cedo, cada um daqueles homens foi tomando o seu rumo, e em pouco tempo estávamos sozinhos. Estava bem escuro. A lua mal iluminava a nossa frente, mas chegamos a casa em segurança. Alex parecia outra pessoa. Agora ele me tratava como um de seus companheiros.

- Você foi ótima. – Não podia negar que a animação em suas palavras era legítima. Ele se dirigiu a cozinha, para preparar o jantar e me trouxe algumas roupas novas. – Você pode ir se lavar, daqui a pouco nós iremos comer. Amanhã eu vou te mostrar o abrigo. Você pode ficar lá ou aqui, se preferir.  Eu também fico lá, ás vezes. É grande, com vários quartos e nunca falta comida. Você já deve ter ouvido falar desse lugar, todos querem ir para lá. Quem sabe um dia isso não será possível? – Ele terminou com um sorriso que faria pessoas muito mais confiantes do que eu desabarem de admiração.

O que ele tinha de calado quando nós conhecemos, agora ele tinha de falador. Apesar de não entender metade do que ele havia dito, achei melhor não dizer nada e não revelar que não sabia nada daquele lugar que eu provavelmente já deveria ter ouvido falar.

Fiquei muito feliz por ter um quarto, com uma chave na porta, e uma cama para dormir. Ainda não estava totalmente certa se o pagamento por sua ajuda seria apenas em roubos, mas ele se comportou como um verdadeiro cavalheiro.

Ao levantar na manhã seguinte, senti um cheiro que fez meu estômago dar cambalhotas de alegria. Depois do jantar da noite anterior, e do café essa manhã, iria insistir para que meu pai contratasse esse homem como cozinheiro no palácio. Sua comida era espetacular e não conseguia disfarçar meu contentamento. Ele sorria sarcasticamente em minha direção, cada vez que eu levava uma porção de comida a boca e suspirava de satisfação.

Conforme prometido, depois do café da manhã, fomos ao tal abrigo que ele tinha mencionado.

Como era um pouco longe para uma caminhada, iriamos em seu cavalo. Preferi não perguntar como alguém sem posses poderia possuir um animal tão vistoso, mas já desconfiava da resposta, mas não foi essa a grande experiência daquele momento.

Eu sabia que seu rosto era perfeito, sua voz, agora me tratando de forma mais amistosa, tinha um efeito interessante, mas, poder tocá-lo, segurar em sua cintura e rodear o seu corpo, fazia com que surgissem sensações que eu não fazia ideia de que existissem. Por um momento, desejei poder ficar abraçada àquele corpo pelo resto dos meus dias. Sem me importar com o que ele poderia pensar, encostei a cabeça em seu ombro, e senti um cheiro realmente maravilhoso, que combinava perfeitamente com aquele homem.

Mais rápido do que eu gostaria, nós chegamos ao nosso destino. O tal abrigo parecia ser um desses lugares em que pessoas sem posses pernoitam, ou fazem alguma refeição em meio a longas viagens. Aquele lugar estava realmente repleto de gente. Vários acenaram para Alex, quando nos aproximamos.

- Aqui é o abrigo. – Ele disse, em voz baixa, ao me ajudar a descer do cavalo. Eu precisava que ele aumentasse a voz, ou tirasse a mão da minha cintura, ou não prestaria atenção em nada do que ele dissesse. Infelizmente, o que aconteceu foi a segunda opção.

- A maioria das pessoas não sabem o que esse lugar é de verdade. – Ele continuou, fingindo arrumar os arreios do cavalo. – Muitos viajantes passam por aqui e se hospedam realmente. Até os guardas reais às vezes aparecem para uma refeição. Isso é importante para não levantarmos suspeitas. Afinal de contas, precisávamos justificar o dinheiro para manter um lugar desse tamanho.

O sorriso em seu rosto alcançou um tamanho incalculável. Ele parecia realmente feliz por aquele feito. Segurando uma de minhas mãos e acenando para algumas pessoas, nós entramos no tal abrigo.

O lado de dentro estava ainda mais cheio. Mesas e mesas repletas de pessoas tomando o seu café da manhã, mas nós não paramos ali.

Entrando por uma porta bem escondida, que eu não teria visto se Alex não tivesse me mostrado, nós descemos uma longa escadaria, sem cruzar com ninguém, porém, à medida que ficava mais claro, eu podia ouvir vozes, muitas vozes e já começava a imaginar o que iria encontrar ali.

6 comentários:

  1. Jana, a parte 8 do conto A Princesa dos Ventos foi a mais esperada por mim e não decepcionou-me, mas também não foi o melhor até o momento. Os cenários de abrigo e floresta garantidos no conto me confortaram, gostei bem da escolha. Aguardo o próximo.

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    1. Que legal que você gostou :D
      Espero que a próxima seja considerada a melhor \o/
      Beijos!!!

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  2. Sou muita trouxa por idealizar o próximo capitulo e você vem e destrói minha imaginação?? JANA EU PRECISO DE MAIS PORQUE ASSIM VOCÊ ME DEIXA LOUCA DIFUFGIUGIFUGU sério,isso tá muito bom e eu quero esse conto impresso beijos

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    1. Que bom que você gostou, Victória... hehehe :D
      Em breve teremos o próximo capítulo.
      Beijos!!!

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  3. jana querida,cadê a parte 9? você está me matando de curiosidade bj

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    1. *momento envergonhada* heheheh
      Ele está a caminho, Victória. Não sei se para o próximo sábado, mas, para o outro, com certeza :D
      Obrigada por acompanhar <3
      Beijos!!!

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