A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 7)

| 10 outubro 2015 |
Clique aqui para ler a parte 6

Voltei a sala cabisbaixa, não querendo realmente encarar aquele homem. Por mais que a capa emprestada cobrisse todo o meu corpo, aquele olhar me queimava, fazia com que eu me sentisse nua.

Não querendo ser repreendida novamente, esperei em pé, para saber o que aconteceria, mas, novamente, ele não me convidou para sentar e as palavras que se seguiram me espantaram tanto quanto me apavoraram.

- Você é muito mais bonita do que parecia, agora que finalmente está limpa.

Não resisti e levantei o olhar. Ele me encarava com a mesma intensidade de antes. Eu não sabia se estava mais nervosa com o que quer pudesse acontecer, ou porque um homem tão bonito me encarava sem nenhuma cerimônia.

Como agora eu olhava diretamente para ele, sem dizer uma palavra, um gesto de sua mão foi o suficiente para que eu soubesse que finalmente poderia me sentar. Depois de tantos momentos de desconforto, até aquela poltrona ruim era um balsamo para meu corpo cansado. Eu sentia que, se estivesse sozinha, poderia encostar minha cabeça e dormir ali durante horas, mas, na presença daquele estranho, isso seria impossível.

- Eu posso ajudar você – Ele repetiu, e meu coração palpitou de nervosismo. – Mas, é claro, eu vou querer algo em troca.

Isso era óbvio. Se ele soubesse que eu era a Princesa do Reino em que ele vivia, me daria comida, roupas e muito mais, com um sorriso no rosto, esperando uma retribuição generosa de meu pai, mas ele não sabia, ou pelo menos eu esperava que não. Eu não podia imaginar o que ele poderia querer, era claro, pelo menos para ele, que eu não tinha nada. Ele deve ter percebido meu nervosismo, porque tentou me tranquilizar.

- Não precisa se preocupar. – Ele começou, com a tentativa de um sorriso em sua face. Parecia que ele não fazia aquilo com muita frequência. – Eu não vou fazer mal a você, só preciso que me ajude.

Eu não tinha escolha, mesmo que nunca tivesse ajudado alguém na minha vida, geralmente os meus criados faziam isso por mim. Mesmo assim, o que eu tinha que fazer me espantou e me fez ter mais receio da pessoa que tinha cruzado o meu caminho.

_______________________________________________________________________________ 

A estrada estava deserta àquela hora. Era quase noite e as árvores faziam com que o breu já fosse perceptível. Já não enxergava muito a minha frente, mas continuei o meu caminho, conforme combinado. A floresta, de ambos os lados da estrada, era assustadora, assim como a parte que beirava o castelo. Eu sabia que não estava sozinha, que eles estavam escondidos, em meio as árvores, mas, sem ver ninguém, eu não sabia quem me vigiava: se meus novos companheiros, ou algo aterrorizante escondido na floresta.

Não demorou muito tempo e aconteceu exatamente o que me disseram. Ouvi o barulho dos cavalos antes de vê-los. Conforme combinado, parei bem no meio da estrada, retirando o capuz, para deixar meu “belo rosto” a mostra. Se alguém achava meu rosto belo naquela situação, eu deveria ser mesmo deslumbrante. Comecei a gritar, como uma donzela indefesa perdida na floresta, torcendo com todas as minhas forças para que não fosse um nobre que me reconhecesse.

A carruagem parou, conforme esperado. O condutor desceu, acalmou os cavalos e me olhou de forma nojenta. Ele tocou em seu chapéu, como que fazendo uma reverência, e foi até a porta da carruagem.

- É uma garota perdida, meu senhor. – Ele disse com a cabeça dentro da carruagem. – Acho que ela irá agradá-lo.

Um segundo depois, desceu da carruagem um senhor corpulento. Sua barriga fazia o movimento de atravessar aquela pequena porta ser um feito complicado. Ao finalmente conseguir ver seu rosto, foi um alívio perceber que não o conhecia, mas senti um embrulho no estômago ao ser observada de forma tão lasciva. Ele foi se aproximando, com um sorriso revoltante. Queria me mexer, sair correndo, mas não era esse o combinado.

- Está perdida, minha querida? – Ele perguntou, descendo o olhar por todo o meu corpo. – Precisa de ajuda para ir para casa?

Eu ouvi um riso do seu condutor. Eu era uma mocinha inocente e sozinha que iria para qualquer lugar com ele, mas jamais para sua própria casa. Já estava ficando com raiva da atitude desonrosa daquele sujeito, mas tinha que continuar com o meu teatro.

- O senhor pode me ajudar? – Perguntei, no tom mais doce que eu conseguiria usar. Eu não achava que tinha sido muito convincente, mas o sorriso daquele homem aumentou ainda mais, se é que era possível.

- Claro que eu posso. Venha comigo. – Ele me estendeu uma de suas mãos, mas olhando para outras partes de meu corpo, que não eram meus olhos.

Eu não queria sequer encostar naquele homem, mas não foi realmente necessário. Como uma explosão dentro da floresta, dezenas de homens armados saíram do meio das árvores. Vários correram direto para a carruagem, levando tudo o que fosse possível, inclusive os cavalos.

O homem a minha frente parecia em choque. Seus olhos arregalados exprimiam o seu pavor e ele se esqueceu da minha existência. O choque do condutor durou menos tempo. Levando a mão na cintura, ele tirou uma arma que eu vi de relance, antes de alguém segurar uma das minhas mãos e me levar para dentro da floresta.

Quando os tiros realmente começaram, fiquei feliz por não estar mais ali.

4 comentários:

  1. COMO ASSIM QUE CAPITULO FOI ESSE AAAAAAAAAAAHHHHHHHFFFFFF o que ele pediu pra ela?scrr

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. hehehe...
      Isso será devidamente explicado no próximo capítulo :D
      Beijos!!!

      Excluir
  2. Jana, que história incrível! Como não conhecia, tive que acompanhar desde o primeiro capítulo e não pude deixar de adorar e prestigiar esse talento de escrita. Me afligi e impressionei em vários momentos da leitura. Parabéns!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Puxa, Ycaro, muito obrigada :D
      Continue acompanhando.
      Beijos!!!

      Excluir