A PRINCESA DOS VENTOS (PARTE 3)

| 05 setembro 2015 |
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Era muito mais alto do que eu imaginava. Não sabia como fazer aquilo da forma correta, se deveria cair em pé, de lado, ou em qualquer outra posição que fosse menos dolorosa, porém, agora era muito tarde para pensar em qualquer uma dessas coisas.

Ver o chão se aproximando de meu rosto só me fez pensar na dor que eu sentiria. Eu tentei colocar minhas mãos a frente do meu corpo, apenas para tentar amortecer um pouco a queda, mas, a poucos centímetros do chão, tudo se congelou, eu simplesmente parei de despencar.

Aquilo era surreal, era como se eu estivesse voando. Meu corpo estava parado, inteiramente elevado, a poucos centímetros do chão. Um sorriso começou a se formar em meus lábios. Aquilo era mágico e maravilhoso, mas meu momento foi interrompido pelos gritos dos guardas prostrados na minha janela.

O desespero voltou, juntamente com tudo o que estava acontecendo. Eu precisava desesperadamente sair dali. Uma forte rajada de vento subiu de ambos os lados, como se estivesse presa embaixo de mim, me mantendo suspensa no ar, e eu fui direto ao chão.

Sem parar para pensar no que poderia acontecer, levantei a barra da minha longa veste de dormir e corri, sem saber por qual direção seguir. O único objetivo que eu tinha em mente era que eu precisava sair dali, que eu precisava me esconder.

A música já estava alta dentro dos salões. Meu coração se apertou, sabendo que eu deveria estar descendo as escadas, sendo admirada por centenas de nobres, circulando, dançando e me divertindo no mais belo dos vestidos em minha grande noite. O dia do sonho mais importante da minha vida tinha se transformado em um pesadelo.

Quando gritos começaram a se misturar a música, eu comecei a correr, sem rumo, sem saber por onde ir. Os jardins do castelo eram imensos, não que eu os conhecesse muito bem. A pele de uma princesa não deveria ficar exposta ao sol, princesas não deveriam se cansar em grandes caminhadas e princesas sempre deveriam estar prontas caso sua presença fosse solicitada. Passeios ou brincadeiras nos jardins, se tratando da infância de uma princesa, estavam completamente fora de questão.

Não sabia para onde ir, mas não podia ficar parada naquele lugar. Muitas carruagens estavam paradas em frente ao palácio. Seria muito fácil me esconder em uma delas, mas aquele seria o primeiro lugar que eles procurariam.

Apesar da ideia ser assustadora, eu não podia ficar dentro dos terrenos do castelo, teria que sair dali. O portão principal era altamente vigiado, então só me restava o caminho da floresta. Contornei o castelo rapidamente e me deparei com aquela imensidão, onde a escuridão era assustadora. Eu exigi para que meu quarto tivesse vista para a entrada, com a desculpa de que eu queria acompanhar tudo o que acontecesse no castelo, mas a verdade era que olhar aquele lugar a noite me assustava.

Durante o dia, as árvores balançavam muito juntas e se perdiam em uma imensidão de verde, mas nada comparado ao breu infinito que surgia a noite. A floresta não era vigiada. Segundo diziam, as próprias árvores cuidavam da segurança. Aquela floresta era interminável, portanto, qualquer um que tentasse se embrenhar em seu interior, jamais conseguiria chegar ao seu objetivo. Teria muita sorte se conseguisse voltar de onde partiu.

A ideia de ter um triste fim no meio da floresta me assustava muito, mas não mais do que ser pega e julgada como uma amaldiçoada. Eu pude ouvir os guardas se aproximando e não parei para pensar no que eu iria fazer. Simplesmente corri em direção a escuridão sem fim.

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Dentro da floresta não era mais possível ouvir os sons do castelo. A música alegre do meu grande dia havia ficado para trás, e mesmo o barulho dos guardas agora não existia.

Assim que me viram correndo, uma multidão de guardas partiu em minha direção. Eu não sabia onde tinha encontrado forças para terminar aquela jornada. Sequer me lembrava de já ter corrido em algum momento em minha vida, mas algo dentro de mim me dava forças para seguir em frente e alcançar as primeiras árvores. 

Apesar da escuridão, não parei até que eles desistissem. Não pude deixar de conter um sorriso quando eles recuaram. Aqueles covardes, não tinham a coragem o suficiente para enfrentar algumas árvores, quando uma princesa jovem e inocente tinha.

Agora que tudo estava silencioso, comecei a olhar a floresta a meu redor. A lua mal servia para me fazer enxergar mais do que alguns metros à frente. O vento batia nas árvores causando um barulho que deixava meus braços arrepiados. Eu esfreguei minhas mãos em meus braços e resolvi voltar um pouco. Se não me distanciasse muito do castelo, poderia encontrar uma maneira de sair pelos portões, assim que fosse possível.

Andei por alguns metros, sem começar a avistar nada que me desse algum indicio que eu estava me aproximando. Nem um som diferente, nem a música que era possível de se ouvir ao longe chegava aos meus ouvidos.

Meu coração começou a palpitar e minha respiração ficava cada vez mais difícil a medida que o tempo ia passando. Estava claro que eu estava andando a mais tempo do que eu precisei para chegar ali e eu não sabia mais qual era a direção correta.

Só havia árvores e mais árvores a minha volta, além do som misterioso e assustador que o vento conseguia produzir.

Sentei em frente a uma árvore e encostei minhas costas em seu tronco. Com os joelhos junto ao corpo, queria esconder meu rosto entre os braços e chorar, mas tinha medo do que poderia aparecer se eu não estivesse olhando ao meu redor.

Levantei as mãos e as encarei, tentando entender o que tinha acontecido. Eu não poderia ter machucado a minha mãe daquela forma, assim como não poderia ter mantido meu corpo suspenso no ar, mas sabia que era a responsável por tudo aquilo, apesar de não conseguir pensar que eu poderia ser como aquelas mulheres.

Eu não poderia ser uma amaldiçoada.

Aquelas mulheres eram completamente más, machucavam as pessoas, faziam bruxarias, usavam um poder completamente desconhecido para conseguir o que elas queriam. Eu ouvi histórias sobre elas durante toda a minha vida, mas meu pai me garantiu que nenhuma delas havia sobrado em nosso reino. O Rei havia queimado uma por uma até que não restasse nem a sombra daquele antigo poder.

Mas ele estava errado. Havia restado uma e ela tinha passado todo aquele tempo dentro do palácio. Ela era a responsável por aquilo ter acontecido, ela tinha me amaldiçoado com aquele poder maligno. Eu não conseguia pensar que eu estava aqui, sozinha, no meio daquela floresta sombria, enquanto ela ainda estava dentro da minha casa, pronta para acabar com a vida de todos.

Uma raiva como eu nunca senti começou a queimar dentro de mim. Pela primeira vez desde de que toda aquela tragédia começou a acontecer, um sentimento conseguiu ser mais forte do que o medo.

Me levantei enfurecida, disposta a fazer o que fosse possível para voltar para a minha casa e fazer com que aquela amaldiçoada pagasse por ter arruinado o meu momento, por ter arruinado a minha vida.

Algo realmente queimava dentro de mim. Sem pensar direito no que estava fazendo, simplesmente gritei de raiva, medo, frustração, não sabia exatamente definir. Levantei os braços tentando me livrar de qualquer coisa que pudesse estar entranhada em meu corpo, ou em minha alma. Senti aquela sensação maravilhosa novamente, levando embora qualquer outro sentimento ruim que pudesse estar dentro de mim.

O vento em volta das árvores aumentou bruscamente, balançando a floresta como se tudo fosse desabar em segundos, e foi quase o que aconteceu, mas, ao invés das árvores caírem, elas foram derrubadas, cortadas de forma perfeita, formando uma grande área aberta ao meu redor.

Olhei novamente para as minhas mãos, sem poder conter as lágrimas que chegavam aos meus olhos. Aquilo era o mesmo que eu tinha feito com minha mãe, mas em uma intensidade muito maior. As árvores estavam todas acabadas, sem vida, metros e metros de floresta destruída em apenas um segundo.

Se eu poderia fazer aquilo com árvores centenárias, o que eu não poderia fazer com uma pessoa? Com dezenas, centenas de pessoas? Eu era exatamente como aquelas mulheres amaldiçoadas, um rastro de destruição.

Minha cabeça começou a girar sem poder assimilar o que estava acontecendo. Senti meu corpo indo em direção ao chão, mas pude ver alguém se aproximando. A última coisa que minha mente conseguiu assimilar foi aquele sorriso perturbador, que tinha sido exatamente a última coisa que eu tinha visto em meu quarto, antes de todo esse pesadelo começar.

6 comentários:

  1. AI SENHOR DIUGFUDUGFUGFIUF por que você sempre terminar o capitulo na melhor parte? dgfugfu que semana que vem chegue logo por favorrrr

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    1. hehehe... que bom que você está gostando :D
      Calma que o próximo capítulo chega logo, logo \o/

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  2. Acho que essa princesa já esta ficando louca por tanto capricho e maldade ela já nem sabe mais o que faz infelizmente continua descontando em quem não tem culpa do que acontece com ela.
    Abraços.

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    1. Ah, mas ela já começou a sofrer nesse capítulo... hehehe
      Obrigada por acompanhar :D
      Beijos!!!

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  3. Oiii
    Que maldade sempre acabando nas melhores partes.
    Louca para ver como ela vai se virar agora.
    Bjs

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    1. A quarta parte já está no ar, Larissa :D
      Espero que você goste.
      Beijos!!!

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