A Batalha dos Elementos (Parte 7/7)

| 08 agosto 2015 |

Finquei meus pés no chão e não saí do lugar. Aquele homem apenas me encarou, com um sorriso começando a se formar em seus lábios. Acredito que tinha ordens muito expressas de como cuidar de mim, mas se surpreendeu e se irritou com a minha pergunta.

- Onde está minha mãe?

- Ela está à frente de seu exército, nos guiando para a nossa próxima vitória.

Não queria pensar o que a atual vitória significaria. Eu esperava sinceramente que eles não tivessem feito mais nada com o povo das montanhas, mas sabia que não deveria ter muita esperança.

- Onde estão os meus amigos?

Agora sim, o seu sorriso presunçoso voltou ao seu rosto.

- Eles estão perfeitamente bem e continuarão assim enquanto você se comportar.

- Eu não acredito em você, e eu não tenho que acreditar em você. – O sorriso sumiu rapidamente, o que me causou alguma satisfação. – Eu não tenho intenção alguma de colaborar se não for pelos meus amigos. Não confio em nenhum de vocês, portanto, se eu não ver imediatamente que eles estão bem, você terá que me levar arrastado. O que eu não acho que será de muita ajuda para os propósitos de mamãe, eu acredito que ela me queira inteiro.

Deixei um sorriso presunçoso surgir em meu rosto. Também poderia jogar aquele jogo.

Ele deu um passo em minha direção e, por um momento, achei que tinha passado dos limites, mas um de seus companheiros interveio em minha defesa. Segurou o seu braço e o lembrou de suas ordens.

- Nós não devemos tocar esse imbecil! Você esqueceu? Ela vai matar você se descobrir que algo aconteceu. 

Ele não parecia ser um homem de muita paciência, por isso respirou fundo por muitas vezes para se acalmar.

- Vá chamar a líder, Áurea.

Pelo menos agora eu sabia o nome daquela mulher. Fiquei feliz por não precisar pensar nela como mãe, que era a única referência que eu tinha.

Esperamos por pouco tempo até ela aparecer ladeada por vários soldados. Parecia aborrecida por ter sido obrigada a voltar, mas não prestou atenção nem por um segundo em outra pessoa.

- Está precisando de algo, querido? – Ela parecia se esforçar para dizer algo que soasse levemente carinhoso.

- Vamos parar de fingimentos. - Esse tipo de atitude não era parte do meu plano. – Eu não vou a lugar algum e não farei nada por você se não me provar que meus amigos estão vivos e bem, e isso tem que ser agora.

Eu achei que ela fosse discutir, mas, como antes, apenas acenou rapidamente para que algo fosse feito. Pouco depois já pude distinguir uma movimentação e eles foram jogados quase à minha frente.

Meu esquadrão estava totalmente amarrado. Pernas, braços e amordaçados. Creio que não era possível usar suas afinidades daquele jeito, mesmo que não estivessem sobre a influência dos anuladores. Eles nem conseguiam me olhar, amarrados daquela forma, mas aquele era o cenário ideal que eu havia criado para o meu plano e eu sabia que não teria oportunidade melhor.

Olhei de relance para um dos anuladores, apenas para comprovar algo que eu já sentia. Não havia energia alguma dentro do triângulo formado por sua mão, exatamente no momento em que nós combinamos. Áurea percebeu o meu olhar e também foi verificar qual era a fonte da minha atenção. Eu vi seus olhos se arregalarem e sua boa começar a se abrir. Se era para gritar ou falar alguma coisa, eu nunca saberia. Era tarde demais para ela.

Eu podia não ser o melhor soldado, podia ter ainda muitos anos de treinamento pela frente, mas nada superava pegar alguém de surpresa. Por um momento, eu não me importei que aquela mulher havia me gerado, a única coisa que importava é que ela era uma grande ameaça para a minha terra, os seus habitantes e, principalmente, para os meus amigos.

Eu nem pensei no que estava fazendo, apenas lancei as minhas afinidades em sua direção e aconteceu algo nunca antes visto. Nunca usei mais que uma afinidade ao mesmo tempo. Exigia muita concentração usar apenas uma, mas, naquele momento, depois de ficar tanto tempo longe daquilo que fazia parte de mim, quando minhas afinidades voltaram, foi como uma explosão de poder em meu interior, e foi exatamente essa explosão que atingiu Áurea bem no coração.

Mal pude enxergá-la caindo. O poder que me deixou, foi uma luz tão brilhante que cegou todos ao meu redor. Só percebi que a luz atravessou o seu corpo e continuou o seu caminho de destruição por entre os soldados que estavam exatamente naquela linha.

Meus amigos, com seus olhares prostrados no chão, sem poder se mexer e os anuladores, com seus capuzes cobrindo o rosto, foram os únicos que continuaram enxergando normalmente. Aproveitando a oportunidade, os anuladores soltaram os meus amigos e foram se esconder, enquanto era possível.

Com sua líder morta, e sem poder enxergar claramente, os soldados do exército do Sul foram aniquilados com a chegada do exército do Oeste.

Não pude ver muita coisa dessa guerra em particular. Meu esquadrão, percebendo que eu estava na mesma situação que os outros soldados do Sul, me tiraram o mais rápido possível no campo de batalha. Não sem antes também resgatarem nossos novos companheiros.

Já era bem a noite quando minha visão começou a voltar ao normal. Eu tinha sido colocado em uma cama bem macia em uma casa de um dos moradores das montanhas. Tinha medo de pensar em quem morava naquela casa. Era muito triste pensar que talvez o seu dono tivesse tido um fim muito cruel.

Mas agora isso não aconteceria novamente. O exército do Sul tinha sido destruído, mas eu não conseguia sentir orgulho de ter feito parte disso. Eu era mais forte do que qualquer um imaginou a princípio. Unir todos os elementos daquele jeito era algo que não estava escrito em nenhum livro. Então, eu deveria ser forte o suficiente para impedir que tantas vidas fossem perdidas, mesmo que fosse pelo bem de tantas outras. Nós tínhamos vencido, mas eu não estava feliz com isso.

- O que está pensando?

Rebeca tinha ficado ao meu lado durante todas aquelas horas. Ela realmente não estava muito machucada, o que foi um grande alívio.  Nunca imaginei que fosse ficar tão feliz em sua companhia. Assim que voltasse para o Oeste, tinha que me encontrar com Sophia. Eu sabia que a amava, não tinha como alguém conhecer aquele ser doce e sensível sem a amar, mas essa não era a razão certa para ficarmos juntos. O que eu senti na caverna e o que eu sentia agora, com Rebeca ao meu lado, era a razão certa.

- Estou pensando quantas coisas ainda estão erradas, mesmo com o exército do Sul destruído.

- O que você quer dizer? – Ela estava deitada ao meu lado, com a cabeça em meu ombro, então apoiou a cabeça em uma das mãos para poder me encarar.

- Tem tantas coisas que não deveriam ser como são. As pessoas não deveriam serem obrigadas a ir para o treinamento e crianças não deveriam ser tiradas de seus pais para isso. – Eu respondi pensando na minha própria situação. – Aquela mulher, Áurea, ela me disse que tem várias pessoas com afinidade com todos os elementos, como eu, mas que elas se escondem para não serem preparados para o abate.

Será que isso seria possível? Será que o Oeste faria de tudo pelo poder, assim como o Sul, mas de forma mais disfarçada? Tantas pessoas que nunca quiseram ir para o treinamento, mas foram obrigadas pelo bem de seu povo e de suas terras?

- O comandante supremo está aqui e eu acredito que ele logo vai vir ver você. – Rebeca parou por um momento, pensando se deveria continuar. Eu a encarei firmemente e ela se decidiu. – Ele parecia muito interessado nos anuladores também, apesar deles dizerem que eram do Leste e que queriam voltar para casa, ele não deu nenhuma garantia disso.

Naquele momento eu percebi que não tinha nenhuma dúvida, pois aquilo não me surpreendeu. Havia algo de muito errado no Oeste também. Talvez, durante todo esse tempo, nós apenas estivéssemos nos defendendo do Sul porque o nosso poder não permitia mais do que isso, exatamente por essa razão que eles se empolgaram como nunca quando eu apareci. Conforme eles queriam, eu fui o responsável pelo fim do exército do Sul e agora não havia nada que os detivesse para fazerem o que quisessem, inclusive atacar o Leste e o Norte.

Mas agora eu conhecia o meu poder. Eu nunca quis fazer parte de tudo isso, nunca quis deixar meu pai sozinho, mas, se tem algo de que eu nunca duvidei, é que eu queria defender as nossas terras e o seu povo. E eu faria isso, mesmo que tivesse que nos defender de nós mesmos.

Eu me levantei e Rebeca me acompanhou. Eu sentia a energia dentro de mim mais forte do que nunca. Acho que ser privado disso me fez ver o quando o meu poder faz parte de mim e me ajudou a liberar aquilo que, mesmo inconscientemente, eu mantinha preso.

Eu segurei Rebeca em meus braços e beijei os seus lábios. Não saberia quando poderia fazer aquilo novamente. Muitas coisas mudariam essa noite. Eu não sabia se estava apenas fazendo o que era o certo, ou se estava me tornando uma pessoa cruel, mas havia tido coragem de matar a minha própria mãe, por um bem maior. Não seria qualquer outra pessoa que teria a minha misericórdia se tentasse fazer algo parecido com o que o Sul vinha fazendo.

Tentaria não ser alguém cruel, mas não daria a chance de que aquilo começasse novamente.

- Você pode chamar o comandante supremo? – Me desvencilhei de Rebeca, olhando no fundo de seus olhos, sabendo que ela me compreendia e que sabia muito bem o que eu estava disposto a fazer.

– Chegou a hora de eu falar com ele.

Tudo mudaria daquele momento em diante, não importa o que tivesse que ser feito, eu estava disposto a fazer o que fosse necessário. Eu não permitiria que algo como o exército do Sul acontecesse novamente.


FIM!!!

4 comentários:

  1. Acabouu?? queria mais acompanhei desde o começo e apaixonei nesse conto.
    Abraçoss.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Esse acabou... hehehe
      Semana que vem vamos ter um novo. Espero que você goste também :D
      Beijos!!!

      Excluir
  2. Achei o conto maravilhoso! O que eu mais gostei foi, além da personagem principal, a ação que contém no conto. Não vejo a hora de ver o próximo conto hahahah

    ResponderExcluir