Finquei meus pés no chão e não saí do lugar. Aquele homem
apenas me encarou, com um sorriso começando a se formar em seus lábios.
Acredito que tinha ordens muito expressas de como cuidar de mim, mas se
surpreendeu e se irritou com a minha pergunta.
- Onde está minha mãe?
- Ela está à frente de seu exército, nos guiando para a
nossa próxima vitória.
Não queria pensar o que a atual vitória significaria. Eu
esperava sinceramente que eles não tivessem feito mais nada com o povo das
montanhas, mas sabia que não deveria ter muita esperança.
- Onde estão os meus amigos?
Agora sim, o seu sorriso presunçoso voltou ao seu rosto.
- Eles estão perfeitamente bem e continuarão assim enquanto
você se comportar.
- Eu não acredito em você, e eu não tenho que acreditar em
você. – O sorriso sumiu rapidamente, o que me causou alguma satisfação. – Eu
não tenho intenção alguma de colaborar se não for pelos meus amigos. Não confio
em nenhum de vocês, portanto, se eu não ver imediatamente que eles estão bem,
você terá que me levar arrastado. O que eu não acho que será de muita ajuda para
os propósitos de mamãe, eu acredito que ela me queira inteiro.
Deixei um sorriso presunçoso surgir em meu rosto. Também
poderia jogar aquele jogo.
Ele deu um passo em minha direção e, por um momento, achei
que tinha passado dos limites, mas um de seus companheiros interveio em minha
defesa. Segurou o seu braço e o lembrou de suas ordens.
- Nós não devemos tocar esse imbecil! Você esqueceu? Ela vai
matar você se descobrir que algo aconteceu.
Ele não parecia ser um homem de muita paciência, por isso
respirou fundo por muitas vezes para se acalmar.
- Vá chamar a líder, Áurea.
Pelo menos agora eu sabia o nome daquela mulher. Fiquei
feliz por não precisar pensar nela como mãe, que era a única referência que eu
tinha.
Esperamos por pouco tempo até ela aparecer ladeada por
vários soldados. Parecia aborrecida por ter sido obrigada a voltar, mas não
prestou atenção nem por um segundo em outra pessoa.
- Está precisando de algo, querido? – Ela parecia se
esforçar para dizer algo que soasse levemente carinhoso.
- Vamos parar de fingimentos. - Esse tipo de atitude não era
parte do meu plano. – Eu não vou a lugar algum e não farei nada por você se não
me provar que meus amigos estão vivos e bem, e isso tem que ser agora.
Eu achei que ela fosse discutir, mas, como antes, apenas
acenou rapidamente para que algo fosse feito. Pouco depois já pude distinguir
uma movimentação e eles foram jogados quase à minha frente.
Meu esquadrão estava totalmente amarrado. Pernas, braços e
amordaçados. Creio que não era possível usar suas afinidades daquele jeito,
mesmo que não estivessem sobre a influência dos anuladores. Eles nem conseguiam
me olhar, amarrados daquela forma, mas aquele era o cenário ideal que eu havia
criado para o meu plano e eu sabia que não teria oportunidade melhor.
Olhei de relance para um dos anuladores, apenas para
comprovar algo que eu já sentia. Não havia energia alguma dentro do triângulo
formado por sua mão, exatamente no momento em que nós combinamos. Áurea
percebeu o meu olhar e também foi verificar qual era a fonte da minha atenção.
Eu vi seus olhos se arregalarem e sua boa começar a se abrir. Se era para
gritar ou falar alguma coisa, eu nunca saberia. Era tarde demais para ela.
Eu podia não ser o melhor soldado, podia ter ainda muitos
anos de treinamento pela frente, mas nada superava pegar alguém de surpresa.
Por um momento, eu não me importei que aquela mulher havia me gerado, a única
coisa que importava é que ela era uma grande ameaça para a minha terra, os seus
habitantes e, principalmente, para os meus amigos.
Eu nem pensei no que estava fazendo, apenas lancei as minhas
afinidades em sua direção e aconteceu algo nunca antes visto. Nunca usei mais
que uma afinidade ao mesmo tempo. Exigia muita concentração usar apenas uma,
mas, naquele momento, depois de ficar tanto tempo longe daquilo que fazia parte
de mim, quando minhas afinidades voltaram, foi como uma explosão de poder em
meu interior, e foi exatamente essa explosão que atingiu Áurea bem no coração.
Mal pude enxergá-la caindo. O poder que me deixou, foi uma
luz tão brilhante que cegou todos ao meu redor. Só percebi que a luz atravessou
o seu corpo e continuou o seu caminho de destruição por entre os soldados que
estavam exatamente naquela linha.
Meus amigos, com seus olhares prostrados no chão, sem poder
se mexer e os anuladores, com seus capuzes cobrindo o rosto, foram os únicos
que continuaram enxergando normalmente. Aproveitando a oportunidade, os
anuladores soltaram os meus amigos e foram se esconder, enquanto era possível.
Com sua líder morta, e sem poder enxergar claramente, os
soldados do exército do Sul foram aniquilados com a chegada do exército do
Oeste.
Não pude ver muita coisa dessa guerra em particular. Meu
esquadrão, percebendo que eu estava na mesma situação que os outros soldados do
Sul, me tiraram o mais rápido possível no campo de batalha. Não sem antes
também resgatarem nossos novos companheiros.
Já era bem a noite quando minha visão começou a voltar ao
normal. Eu tinha sido colocado em uma cama bem macia em uma casa de um dos
moradores das montanhas. Tinha medo de pensar em quem morava naquela casa. Era
muito triste pensar que talvez o seu dono tivesse tido um fim muito cruel.
Mas agora isso não aconteceria novamente. O exército do Sul
tinha sido destruído, mas eu não conseguia sentir orgulho de ter feito parte
disso. Eu era mais forte do que qualquer um imaginou a princípio. Unir todos os
elementos daquele jeito era algo que não estava escrito em nenhum livro. Então,
eu deveria ser forte o suficiente para impedir que tantas vidas fossem
perdidas, mesmo que fosse pelo bem de tantas outras. Nós tínhamos vencido, mas
eu não estava feliz com isso.
- O que está pensando?
Rebeca tinha ficado ao meu lado durante todas aquelas horas.
Ela realmente não estava muito machucada, o que foi um grande alívio. Nunca imaginei que fosse ficar tão feliz em
sua companhia. Assim que voltasse para o Oeste, tinha que me encontrar com
Sophia. Eu sabia que a amava, não tinha como alguém conhecer aquele ser doce e sensível
sem a amar, mas essa não era a razão certa para ficarmos juntos. O que eu senti
na caverna e o que eu sentia agora, com Rebeca ao meu lado, era a razão certa.
- Estou pensando quantas coisas ainda estão erradas, mesmo
com o exército do Sul destruído.
- O que você quer dizer? – Ela estava deitada ao meu lado,
com a cabeça em meu ombro, então apoiou a cabeça em uma das mãos para poder me
encarar.
- Tem tantas coisas que não deveriam ser como são. As
pessoas não deveriam serem obrigadas a ir para o treinamento e crianças não
deveriam ser tiradas de seus pais para isso. – Eu respondi pensando na minha
própria situação. – Aquela mulher, Áurea, ela me disse que tem várias pessoas
com afinidade com todos os elementos, como eu, mas que elas se escondem para
não serem preparados para o abate.
Será que isso seria possível? Será que o Oeste faria de tudo
pelo poder, assim como o Sul, mas de forma mais disfarçada? Tantas pessoas que
nunca quiseram ir para o treinamento, mas foram obrigadas pelo bem de seu povo
e de suas terras?
- O comandante supremo está aqui e eu acredito que ele logo
vai vir ver você. – Rebeca parou por um momento, pensando se deveria continuar.
Eu a encarei firmemente e ela se decidiu. – Ele parecia muito interessado nos
anuladores também, apesar deles dizerem que eram do Leste e que queriam voltar
para casa, ele não deu nenhuma garantia disso.
Naquele momento eu percebi que não tinha nenhuma dúvida,
pois aquilo não me surpreendeu. Havia algo de muito errado no Oeste também.
Talvez, durante todo esse tempo, nós apenas estivéssemos nos defendendo do Sul
porque o nosso poder não permitia mais do que isso, exatamente por essa razão
que eles se empolgaram como nunca quando eu apareci. Conforme eles queriam, eu
fui o responsável pelo fim do exército do Sul e agora não havia nada que os
detivesse para fazerem o que quisessem, inclusive atacar o Leste e o Norte.
Mas agora eu conhecia o meu poder. Eu nunca quis fazer parte
de tudo isso, nunca quis deixar meu pai sozinho, mas, se tem algo de que eu
nunca duvidei, é que eu queria defender as nossas terras e o seu povo. E eu
faria isso, mesmo que tivesse que nos defender de nós mesmos.
Eu me levantei e Rebeca me acompanhou. Eu sentia a energia
dentro de mim mais forte do que nunca. Acho que ser privado disso me fez ver o
quando o meu poder faz parte de mim e me ajudou a liberar aquilo que, mesmo
inconscientemente, eu mantinha preso.
Eu segurei Rebeca em meus braços e beijei os seus lábios.
Não saberia quando poderia fazer aquilo novamente. Muitas coisas mudariam essa
noite. Eu não sabia se estava apenas fazendo o que era o certo, ou se estava me
tornando uma pessoa cruel, mas havia tido coragem de matar a minha própria mãe,
por um bem maior. Não seria qualquer outra pessoa que teria a minha
misericórdia se tentasse fazer algo parecido com o que o Sul vinha fazendo.
Tentaria não ser alguém cruel, mas não daria a chance de que
aquilo começasse novamente.
- Você pode chamar o comandante supremo? – Me desvencilhei
de Rebeca, olhando no fundo de seus olhos, sabendo que ela me compreendia e que
sabia muito bem o que eu estava disposto a fazer.
– Chegou a hora de eu falar com ele.
Tudo mudaria daquele momento em diante, não importa o que
tivesse que ser feito, eu estava disposto a fazer o que fosse necessário. Eu
não permitiria que algo como o exército do Sul acontecesse novamente.
FIM!!!
Acabouu?? queria mais acompanhei desde o começo e apaixonei nesse conto.
ResponderExcluirAbraçoss.
Esse acabou... hehehe
ExcluirSemana que vem vamos ter um novo. Espero que você goste também :D
Beijos!!!
Achei o conto maravilhoso! O que eu mais gostei foi, além da personagem principal, a ação que contém no conto. Não vejo a hora de ver o próximo conto hahahah
ResponderExcluirObrigada, Luis :D
ExcluirNa próxima sexta iniciamos mais um \o/