Escrito com sangue (Parte 2/4)

| 25 abril 2015 |


Quando Meg desabou na cadeira, percebeu o quanto sua respiração estava acelerada. Talvez dois dias não fossem o suficiente. Talvez precisasse de dois meses de descanso para parar de ficar imaginando coisas.

Ela abriu sua mochila e começou a tirar os seus livros e cadernos quando uma voz próxima a assustou:

- Bom dia, Meg.

Meg conseguiu não gritar tão alto, o que atrairia a atenção indesejada da senhora Eva. Ela cuidava carinhosamente de sua biblioteca e expulsava qualquer um que ameaçasse acabar com a paz de seu lugar sagrado, mas seu coração estava aos pulos.

- Nossa, que pessoa mais concentrada, e olha que ainda nem começou a estudar. – Disse Evelyn rindo e se sentando logo a sua frente.

Elas eram amigas desde a primeira série. Inseparáveis desde o primeiro dia em que sentaram lado a lado. Ir para a faculdade era um pouco triste quando elas se lembravam que não estariam mais juntas.

Meg conseguiu apenas dar um sorriso envergonhado para a sua melhor amiga, antes de Evelyn começar os seus próprios estudos. Ela queria contar para alguém o que tinha acontecido, mas só de pensar no assunto corava de vergonha. Era tudo muito estranho, muito surreal. Ela mesma não entendia direito o que tinha visto.

Resolveu se concentrar em seus estudos. Ou pelo menos fingir que era nisso em que estava pensando ao encarar os seus livros.

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Ao sair da biblioteca, Meg se dirigiu com Evelyn para a sua primeira aula. A menina lhe contava algo sobre o jantar da noite anterior e como seus pais ainda a pressionavam para escolher advocacia ao invés de artes cênicas, mas ela não prestava muita atenção.

Os corredores estavam lotados. Todos se dirigiam para as suas primeiras aulas calmamente, pois o sinal ainda não havia tocado. Esse era o momento perfeito para ela averiguar algo sem parecer muito suspeito.

- Eu não tenho interesse nenhum naquele escritório idiota. Meu pai que feche ele quando não quiser mais trabalhar. Por que eu tenho que assumir algo que eu nunca pedi para ter? – Dizia Evelyn, terminando algum tipo de raciocínio que Meg não fazia ideia de qual era.

- Eu vou passar no banheiro antes da aula, pode ir, eu já te encontro lá. – Disse Meg, sem esperar uma resposta e disparando pelos corredores.

A sala do jornal ficava perto da saída, por isso aquele corredor estava ainda mais movimentado. Ninguém saberia se ela devia estar ou não passando por ali.

Seguindo calmamente, ela estava pensando em fingir que precisava amarrar o sapato quando chegasse em frente à porta, para ver se conseguia ouvir algo, quando percebeu que ela estava entreaberta. Era sua grande chance. Ela só precisava passar perto o suficiente. Ninguém acharia estranho que seu olhar se desviasse para aquela sala. E Meg tinha certeza que ninguém pararia de trabalhar ali dentro, apenas para ver uma aluna, entre tantos, passando pelo corredor.

Seu coração batia acelerado, mas pelo menos agora ela veria que nada de mais acontecia ali dentro. Seu medo iria embora, e finalmente ela se convenceria de que tudo isso não era nada mais do que sua fértil imaginação lhe pregando uma peça.

Quando ela estava perto o suficiente para ver dentro da sala, não conseguiu passar direto como era a sua intenção. Seus pés simplesmente pararam de andar, como que por vontade própria. Algumas pessoas esbarraram nela, o que Meg quase não percebeu.

Seus pés voltaram a funcionar, e quando ela se deu conta, estava correndo por aquele corredor repleto de alunos, exatamente um instante depois que ela percebeu que, dentro daquela sala, havia sete pares de olhos que, no momento em que ela parou em frente à porta, olharam exatamente em sua direção.

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Meg correu como nunca, e só parou quando chegou em sua casa. Só percebeu o quanto era estranho a sua atitude quando passou pela porta e encontrou a mãe, que estava prestes a sair.

- O que aconteceu, Meg? – Ela perguntou realmente preocupada, olhando minuciosamente para filha, como que para encontrar o que pudesse estar acontecendo.

Ela sabia o quão estranho era aquela situação. Nunca havia matado uma aula na vida, estudava como uma louca e agora, as vésperas do vestibular, estava em casa, bem no horário da primeira aula.

- Eu realmente não estou me sentindo bem, mãe. – Disse Meg, andando em direção ao sofá. – Resolvi voltar para casa, para descansar um pouco.

 Sua mãe largou a bolsa e os documentos que levaria para o hospital e veio preocupada em sua direção, colocando a mão em sua testa.

- O que você está sentindo meu bem? – Sem esperar uma resposta ela levantou, pegando o telefone. – Vou ligar para o hospital para dizer que não posso ir hoje.

- Não! – Meg se levantou rapidamente. – Eu estou bem. – Ela sorriu apenas para tentar dar alguma força as suas palavras.

- Eu só preciso dormir um pouco. – Meg tirou o telefone das mãos da mãe e o colocou de volta no suporte. – Eu realmente só preciso descansar. Essa história de vestibular está me enlouquecendo. Eu pensei que não faria tão mal tirar um dia de folga, você acha que eu agi mal?

Meg sorriu, tentando fazer aquela ruga de preocupação sumir de sua testa. Longe da escola, na companhia de sua mãe, ela não conseguia ficar mais tão preocupada assim com o que tinha visto. E também, iria enlouquecer se pensasse demais no que tinha acontecido.

- Claro que não. – A mãe de Meg disse sorrindo, recolhendo as suas coisas e dando um beijo em sua testa. – Eu sei como está se esforçando. Eu tenho muito orgulho de você, querida. Vou passar a noite no hospital, mas, se precisar de qualquer coisa, é só me ligar, certo?

- Tudo bem, mãe. Eu só vou dormir mesmo.

Meg se despediu de sua mãe e viu a loucura que tinha feito. As aulas de hoje eram muito importantes, como as de todos os dias, porém, ela não podia se dar ao luxo de faltar em nenhuma delas. Mas, não adiantava chorar o leite derramado. Meg decidiu que descansaria aquele dia e tinha certeza que amanhã nada de estranho aconteceria.

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Meg dormiu durante toda a tarde e o começo da noite. Quando acordou, se assustou ao ver o céu já escuro, mas se sentia muito melhor. Um dia sem sobrecarregar seu cérebro e seu corpo com estudos já fazia muita diferença.

Ela se levantou para ir até a cozinha. Havia passado o dia todo sem comer, e talvez tenha sido isso que a tenha acordado no fim das contas, senão, dormiria até o dia seguinte.

A cortina da sala estava aberta. Ela nem pensou em fechá-la antes de subir, mas não imaginou que acordaria já à noite. Era uma sensação inquietamente quando as luzes de dentro de casa estavam acesas e ela sabia que qualquer pessoa podia observá-la do lado de fora, por mais que ela não enxergasse bem quem passasse na rua.

Quando ela começou a fechar a cortina, sentiu um arrepio já característico. Seu coração disparou, como que prevendo o que ela iria ver. Ele estava ali, do outro lado da rua, e, mais uma vez, olhando diretamente para ela. Ela podia ver aquele sorriso malicioso brilhando na escuridão. Meg estava realmente assustada agora.

Ela fechou a cortina rapidamente e correu para o telefone. Agora não era mais a sua imaginação lhe pregando uma peça. Aquele garoto havia feito algo muito ruim, sabia que ela tinha visto e agora a estava perseguindo.

Foi apenas um momento de pausa, entre ela decidir se ligava para a sua mãe ou diretamente para a polícia, porém, foi o suficiente para que uma mão interrompesse o seu movimento. Um toque gelado, mas firme. Ela teve que levantar o olhar para encarar o seu rosto, ele era realmente alto, e, algo que ela não conseguiu perceber a distância, ele era lindo. Mas não uma beleza convencional, ele era perfeito, sem defeitos, com um olhar que só o tornava ainda mais ameaçador. Como uma planta muito atraente, mas que está cheia de veneno.

Aquilo era demais para qualquer pessoa assimilar, portanto, Meg demorou para finalmente voltar a si, perceber que havia um garoto estranho dentro de sua casa e que havia entrado sabe-se lá como. Quando seus lábios começaram a se abrir, e o grito estava quase chegando a sua garganta, ele sorriu, e foi como se seu mundo tivesse parado. Ela não conseguia mais se mexer. Não que ela estivesse encantada com aquele sorriso. Um ato geralmente apenas gentil, naquela face, era assustador. Ela realmente não conseguia se mexer. Seus músculos pareciam feitos de gesso, era como se ela estivesse congelada por dentro.

A mão que segurava a sua, impedindo o seu telefonema, finalmente a soltou, apenas para se dirigir aos seus lábios entreabertos:

 - Isso não é uma boa ideia. – Ele disse inclinando a cabeça de leve em direção ao telefone.

A mão que tocava os seus lábios subiu até a sua testa e a última coisa que ela viu foi seu olhar, ainda mais aterrorizante, enquanto caia em seus braços.

2 comentários:

  1. Por que continua na próxima semana?!? A história está tão boa...eu quero tanto saber o que vai acontecer que minha imaginação irá trabalhar contra mim e imaginar continuações diferentes... O que me resta será esperar até a próxima semana lendo um bom livro. O grande problema é que: "O tempo se arrasta, quando se espera" ...

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    1. Que bom que você gostou Beka <3
      A continuação sai hoje, boa leitura :D

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